1.Nós, como é público e notório, somos defensores acérrimos a das novas tecnologias da comunicação e informação como forma de viver normalmente em democracia: expressando as nossas opiniões livremente, sem filtros partidários ou dependências funcionais. Não há verdadeira democracia , sem liberdade – não há verdadeira liberdade, sem democracia.
E a discussão em democracia é violenta, aguerrida, assertiva e, por vezes, excessiva. Mas é assim: a discussão está para a convicção como a paixão está para o amor. Na convicção e no amor, a discussão e a paixão podem ser brutalmente excessivas. Portanto, nós assumimos que nos integramos na tradição anglo-saxónica (sobretudo, norte-americana) de, na dúvida, prefere sempre a liberdade. A liberdade de pensamento. A liberdade de expressão. A liberdade de estar errado (aquela liberdade que a esquerda cultiva desde 1974).
Qual é, então, o limite para o debate de ideias público? O limite da boa educação e do respeito pelas regras que orientam a vida em sociedade. Não se poderá difamar, insultar ou lançar ameaças gratuitas de violência. Já para não falar do limite do “bom-gosto” – é que a arte de bem argumentar aprende-se. Cultiva-se. Bem argumentar não é bem insultar. Pelo contrário: bem insultar é mal argumentar.
2.Vêm tais considerações a propósito de um artigo publicado ontem, no jornal “Público”, assinado por Elísio Estanque, Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O título é sugestivo “lambe-cús”. Assim: sem mais, nem menos. O Economista propõe-se, pois, a elaborar uma teoria geral dos “lambe-cús”.
2.1.Atentemos nas suas palavras:
“Por outro lado, com a chegada da democracia deu-se uma viragem. Houve uma espécie de “PREC” anti-lambebotas. Acresce que nessa fase os cus mais gordos e bem tratados saíram de cena, isto é, ou exilaram-se ou entraram numa espécie de clandestinidade. E isto também porque com a multiplicação do cidadão ativo e ciente dos seus direitos, estas duas subespécies tiveram grande dificuldade em prosperar. O cidadão pleno e emancipado, com a espinha dorsal no sítio, afirmava-se por si próprio e, durante algum tempo, os próprios lideres e dirigentes prescindiram dos lambe-cus e das suas manobras. Esse cenário foi, no entanto, passageiro. Rapidamente se começou a notar a grande resiliência desta camada de gente, que aliás, rapidamente renasceu das cinzas”.
2.2.Prossegue Elísio Estanque, nas páginas de opinião do “Público”: “Na sua versão mais pura, o lambe-cus possui qualidades que lhe permitem detetar à distância onde se encontra o cú mais proeminente e atrativo para ser lambido. Alguns desenvolveram até uma língua bífida, especialmente elástica e hipertrofiada, o que lhes permite lamber vários cús ao mesmo tempo sem que os respetivos donos se apercebam da concorrência. Já quanto ao “caráter” é um atributo que, pelo contrário, se encontra atrofiado ou não existe sequer. O “ego” do verdadeiro lambe-cus só se faz notar quando algum cu poderoso dá sinais de querer ser lambido. É dotado de instintos caninos. Ele projeta-se totalmente na satisfação plena do seu dono.
É verdade que alguns lambe-cus entram por vezes em desgraça, sobretudo quando, dominados por uma pulsão exibicionista denunciam em público os cus que andaram a lamber. Mas o seu habitat natural são as zonas subterrâneas do poder: as grandes corporações e grupos empresariais, os bastidores da política, dos municípios, das universidades, etc. Em todo o lado onde a cultura burocrática cresceu, os séquitos de lambe-cus proliferam e fazem fila. Muitos tiram benefício material e pessoal da sua atividade, podendo até enriquecer, sobretudo depois de terem ajudado os seus patronos a um enriquecimento milhões de vezes superior ao seu. Mas a sua verdadeira recompensa está no próprio ato de lamber. Sem essa prática, constante e repetida, a sua existência não tem qualquer sentido. Eles são a contraparte da vontade de bajulação de personagens “importantes” cujos enormes umbigos – e as lambidelas diárias – os fazem sentir-se muito mais importantes do que realmente são”.
3.O que se retém deste artigo? Que somos todos os lambe-cús, excepto a malta de esquerda; que os “lambe-cús” escolhem os “cus” mais gordos; o PREC foi bestial porque os “cús” fugiram todos para fora de Portugal; os “lambe-cús” têm todos uma língua bífida; o prazer dos “lambe-cús” está no próprio acto de lamber. E assim se faz um artigo num jornal de referência em Portugal – o tão criticado “Correio da Manhã”, que dizem ser um “pasquim”, jamais publicaria um texto destes! Afinal, qual é a intenção do Autor? O Autor quer denunciar o quê? E não poderia escrever um texto – substancial, formal e estilisticamente – superior? Nós já ouvimos na feira de Carcavelos, comentários de crítica política de nível bastante mais eleaborado.
Imagine-se que seria alguém de centro-direita a escrever o que Elísio escreveu? Hoje, já todos o teriam chamado de “fascista”, “salazarista”, “não sabe escrever” e “como é possível o Público publicar estas coisas!”. E que Elísio teria certamente um padrinho muito generoso no “Público”! Mas como Elísio já foi do PCP e agora é um ídolo do BE – sendo destacado constantemente no “esquerda.net” – é simplesmente um intelectual aguerrido e sem medo. Critérios!
4.O problema dos falsos moralismos é que eles são reversíveis: atingem sempre quem os defende e enuncia. Porque disseram-me que, afinal, Elísio Estanque queria –não criticar a direita – mas sim aqueles que, à esquerda, promovem o sectarismo, o fanatismo e o centralismo democrático.
Ou seja, a real intenção de Elísio foi a de qualificar o Comité Central do PCP como um comité de “lambe-cús”: não há divergências, não há opiniões dissidentes, todos votam no mesmo sentido, com medo do chefe e do desemprego (sim, porque no PCP, há verdadeiros funcionários!).
5.O BE volta, pois, à carga contra o PCP – e assim vai o Portugal geringonçado! Resta saber, no entanto, se o PCP não considerará este texto de Elísio Estanque como um “lambe-cú” ao Bloco de Esquerda e à esquerda.net! E ainda dizem que a geringonça funciona! E é uma coisa mais Estanque…como Elísio, o cronista mais genial do “Público”.