A desonestidade dói

A confiança é algo essencial nos negócios, por isso não ponho muita fé nas empresas que vivem de aldrabices

Hoje da manhã fui arrasado. Há umas semanas fiz a tradução e a legendagem de um episódio de uma série americana, de inglês americano para português europeu, a pedido de uma empresa indiana. Depois de eu lhes ter enviado o episódio legendado nunca mais me disseram nada, e deixarem de responder a telefonemas e a mails. Por isso, hoje de manhã pus alguns comentários desfavoráveis sobre essa empresa num site internacional para tradutores. Os indianos reagiram em minutos, enviando-me a avaliação do meu trabalho, uma fatura, e sugerindo que eu retirasse os comentários desfavoráveis do site,.o que eu fiz

Abdiquei assim da única arma que eu tinha, que era a verdade. E sinto-me como se tivesse vendido a alma ao Diabo por um prato de lentilhas. Já fui a uma igreja rezar hoje de manhã: talvez Deus me possa proporcionar algum consolo e alguma força, porque me sinto partido por dentro.

Não é a primeira vez que sou enganado na internet. Há quatro anos fiz, com a preciosa ajuda de uma colaboradora, um conjunto de estudos de mercado sobre o vinho, em diversos países. Fomos pagos apenas 30% do valor acordado, e fomos também prejudicados no IRS porque passámos recibos da totalidade do pagamento. Não fomos para tribunal porque podia não compensar financeiramente. A minha colaboradora, que é alemã, ficou chocada quando a nossa advogada pediu 80 euros apenas para escrever uma carta a exigir o pagamento em falta. E o tipo que nos encomendou os estudos de mercado deve ter ficado a rir-se, como devem ter ficado os indianos, hoje de manhã.

A confiança é algo essencial nos negócios, por isso não ponho muita fé nas empresas que vivem de aldrabices. De qualquer forma, hoje recebi uma importante lição, e até é possível que, com a presença de Deus, seja um dos melhores dias da minha vida, como canta a Dido na sua canção.