Jaime Fernandes. Uma voz pacífica

O locutor, jornalista e atual provedor do telespectador da RTP morreu ontem, aos 69 anos.

Dele se dizia que tinha uma voz que podia gravar tudo. Aquela voz grave, meiga, confortável e pacífica – que chegou a apresentar a espaços de antena do PSD –, não podia combinar melhor com o programa da RFM a que deu o nome e que se tornou um clássico da radiofonia: “Oceano Pacífico”. Jaime Fernandes morreu ontem, aos 69 anos, numa altura em que, além de ser provedor do telespectador da RTP, cargo que ocupava desde 2013 e no âmbito do qual apresentava, todos os sábados, o programa “A Voz do Cidadão” em que comentava e respondia às críticas dos cidadãos; integrava a administração da Meo Arena e estava envolvido na organização da Web_Summit, que terá lugar em Lisboa nos primeiros dias de novembro.

“Uma morte prematura”, sublinhou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que recordou ainda “o grande profissional que deixa boas memórias entre os pares e os portugueses”, um homem que descreve como “uma voz da rádio, desde os tempos da Emissora Nacional, um senhor da televisão, como provedor do Telespectador na RTP, um homem da música e, acima de tudo, um comunicador”. Já o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, sublinhou a relevância de Jaime Fernandes como uma “personalidade marcante da comunicação social”.

Locutor, jornalista, criativo, realizador de rádio e televisão, Jaime Fernandes dividiu-se sempre entre a rádio e a televisão, mas foi a rádio o primeiro e maior amor do homem que nasceu a 23 de junho de 1947, em Lisboa. Jaime Fernandes despertou para a rádio ainda adolescente, quando emprestou a sua voz a sessões de teatro radiofónico, transmitidas na Emissora Nacional. Já com o tal bichinho da rádio, começou oficialmente a sua carreira no Rádio Clube Português. Já na RDP apresentou vários programas e, em 1980, foi correspondente n’ “A Voz da Alemanha”.

A rádio nunca deixou de fazer parte da sua vida. Foi diretor de programas na Rádio Comercial e também na Rádio Renascença, onde lançou a onda FM que esteve na origem da criação da RFM – da qual foi também diretor de programas. Anos mais tarde disse que, em Portugal, “rádio escreve-se com dois ‘r’”, referindo-se à Renascença.

Em 1989 regressou à RDP para ser administrador, cargo que manteve até 1994. Antes de sair ainda criou a Antena 3. De resto, a paixão pela rádio e pela música era tal que foi da sua cabeça que saiu o projeto RTP Música que, no entanto, nunca chegou a bom porto.

Entre 2000 e 2001 foi gestor da RTP_, casa onde também assumiu o lugar de diretor de programas dos canais internacionais e de novos projetos; e foi diretor da RTP internacional e África até se reformar.

No entanto, nunca negou que a sua maior vitória na televisão foi a autoria e realização da série de 26 episódios, “Estranha Forma de Vida – Uma História da Música Popular Portuguesa” (2012), em que contava o percurso da música popular portuguesa entre os anos 30 e a atualidade, recorrendo para tal ao Arquivo da RTP e a testemunhos de cantores, compositores e produtores como Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, José Cid, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Pedro Abrunhosa e Ana Bacalhau. “Foram dos melhores meses da minha vida”, disse, a este propósito.