O panorama político está incendiado com a questão de saber se os novos administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) devem ou não declarar os rendimentos e o património que detêm. Pelos vistos serão obrigados a fazê-lo porque, à exceção do PS, todos os outros partidos com assento parlamentar são favoráveis à iniciativa, mesmo existindo administradores que já afirmaram que preferem demitir-se a entrar nessa espécie de voyeurismo financeiro.
Grande parte da população também é a favor da divulgação, porque o acordo que está em vigor determina que o presidente executivo (CEO) da CGD, António Domingues, ganhe mais de 30.000 euros por mês, ilíquidos. Num país onde a maioria dos empregados e pensionistas não chega a ganhar 1.000 euros por mês, e por vezes bem menos, o salário do CEO da CGD parece obsceno a muita gente.
Contudo, esse salário não é um favor político, mas deriva das leis do mercado. O salário foi determinado como sendo a mediana (o valor que divide uma série de números em duas partes iguais) da remuneração dos CEO dos outros grandes bancos portugueses. De acordo com o que se pratica no mercado, não é nem demasiado alto nem demasiado baixo. É, apenas, competitivo.
Mas estamos num terreno fértil para a demagogia. O PSD propõe que os salários sejam determinados pela média das remunerações dos gestores nos três últimos anos anteriores a irem trabalhar no setor público. Francamente, não vejo a utilidade dessa iniciativa, a não ser demonstrar que o PSD é oposição, mesmo lançando a confusão nestas e em futuras contratações. No limite, até é possível que a aplicação dessa proposta aumente os salários dos administradores.
O cúmulo da insensatez vem do Bloco de Esquerda, que pretende alinhar o salário do CEO da CGD pela remuneração do primeiro-ministro: cerca de 6.500 euros mensais, ilíquidos. Tanto quanto sei, há diretores de balcões nos bancos que ganham pouco menos do que isso. É uma proposta sem pés nem cabeça, apenas um meio intelectualmente desonesto de ganhar popularidade.
A minha opinião é que os rendimentos e os patrimónios (adquiridos durante décadas, talvez mesmo vindos do berço) dos novos administradores da CGD não devem ser tornados públicos, porque esses dados nos gestores dos outros bancos também não o são. António Domingues vem do BPI, um banco bem gerido. E, se queremos fazer da Caixa, instituição detida a 100% pelo Estado, isto é, por todos nós, um banco competitivo, temos de pagar aos seus empregados salários em linha com o que se paga nos outros bancos.
Tal será, muito provavelmente, um bom investimento. O que é impossível é fazer omeletes sem usar ovos.