É uma das doenças de pele mais comuns e afeta 150 mil a 200 mil portugueses. Um estudo apresentado na semana passada no parlamento pela Associação Portuguesa da Psoríase traça pela primeira vez um retrato dos doentes em Portugal. Metade são seguidos no privado e 25% dizem já ter tido dificuldade de acesso a consultas, sendo os recursos limitados no Serviço Nacional de Saúde, a falta de especialistas e dificuldades de marcação da consulta as razões mais apontadas. Os tempos de espera disponíveis no portal do SNS revelam até que ponto pode ser preciso esperar por uma consulta de dermatologia no Estado: nove hospitais têm tempos de espera médios superiores a um ano em situações não urgentes.
Em Santarém a espera é de mais de dois anos (824 dias), em Santa Maria e em Castelo Branco de ano e meio. Em Gaia e em Espinho espera-se um ano e Vila Real só não surge entre os nove hospitais por apenas alguns dias. Mas a situação mais crítica é no Algarve, com a espera a superar três anos para casos menos urgentes. Em Faro e Portimão, mesmo doentes prioritários, enfrentam uma espera de quase dois anos de acordo com as últimas estatísticas da tutela, referentes ao período de abril a junho.
Hugo Oliveira, dermatologista e coordenador da consulta de psoríase no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, fez a revisão científica do estudo sobre o doente com psoríase, desenvolvido pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Na apresentação no parlamento, o médico sublinhou que o acesso é difícil em vários pontos do país, mas no Algarve, um doente com psoríase grave, dificilmente consegue ser seguido no Estado. Esta não é a única preocupação. Um dos tratamentos indicados é a fototerapia, não disponível em todos os hospitais. «O acesso tem vindo a tornar-se mais difícil, pode implicar grandes deslocações para os doentes – que não são financiadas –, e os horários a que está disponível não são acessíveis». Na sessão, em que participaram a deputada do PS Maria Antónia Almeida Santos e o deputado do PCP João Ramos, uma das propostas deixadas aponta para uma comparticipação da fototerapia em convencionados, como acontece com a fisioterapia. Outra proposta é o Estado passar a apoiar a compra de cremes e produtos de higiene que ajudam a minimizar a doença. A associação defende a atribuição de vales que ajudem a suportar os encargos.
Hugo Oliveira defende que há também burocracias que importaria resolver no SNS: por vezes, quando um doente vai a uma consulta no hospital e o médico lhe prescreve algum exame que não pode ser feito no próprio dia, a pessoa regressa a casa e não consegue que o médico de família faça a prescrição para os exames se realizarem na zona de residência. «Tem havido uma maior limitação nos centros de saúde e muitas vezes os doentes têm de regressar ao hospital, perdendo mais um dia».
A ideia de que devem ser os médicos de família a acompanhar os casos mais ligeiros, em articulação com os médicos hospitalares, foi também deixada na apresentação. As ‘teleconsultas’, em que os especialistas apoiam à distância os clínicos dos centros de saúde, têm estado a ser implementadas e esta semana foi publicada a resolução do Conselho de Ministros que cria o Centro Nacional de TeleSaúde, que deverá no futuro reforçar a articulação a nível nacional. Saúde e Finanças têm dois meses para desenhar o projeto.
Maria Antónia Almeida Santos admitiu que poderá ser equacionado um sistema de ‘via verde’ para o acesso de doentes crónicos às consultas hospitalares. Na data em que se assinala o Dia Mundial da Psoríase, no sábado passado, a doença vai estando menos escondida.