Ao subir as rampas de acesso ao palácio não pude deixar de me interrogar: como foram trazidos os materiais de construção aqui para cima?
Todos nós, que mal nos conseguimos transportar a nós próprios e chegamos aqui ofegantes, pensamos nisso. A construção do palácio, da cozinha, das cocheiras, destes contrafortes, envolve um volume de materiais enorme. Talvez seja por isso que D. Fernando contrata não um arquiteto, mas um geólogo e engenheiro de minas, que tem competências no transporte de materiais. Uma das primeiras coisas que o barão de Eschwege faz é construir e asfaltar, uma técnica que ele introduz aqui, a estrada de S. Pedro. Isso permite fazer o transporte muito mais facilmente. Supomos que os materiais tenham sido trazidos por burros e por carros de bois. Era tudo feito à força de tração animal.
E o mesmo se aplica às pessoas?
Sim. Quando o D. Fernando e a D. Maria II vêm visitar a obra, ele vem no seu cavalo e ela vem de burro, um meio de transporte mais lento, até porque muitas vezes estava grávida. Mas posso-lhe dizer que temos cavalos muito robustos para fazer os trabalhos da floresta e sempre que tentámos subir com eles até cá acima foi uma grande dificuldade.
Por que nasce o palácio em cima de um mosteiro?
Esta moda de um Rei se auto-representar através da imitação de um castelo medieval começa por volta de 1823 com um castelo à beira-Reno. A Pena insere-se nessa longa linhagem de castelos românticos que celebram o lugar onde se encontram. E a Pena encontra-se onde? Onde já existe um mosteiro manuelino construído a partir de 1503 para festejar o regresso da segunda frota de Vasco da Gama da Índia. Tudo o que vamos encontrar na Pena em termos de soluções formais – a ligação à Índia, a ligação ao Norte de África, onde começou a expansão portuguesa, a ligação ao manuelino – tem a ver com esta lógica do romantismo germânico – a comemoração do lugar.
Temos algum registo da primeira visita do D. Fernando a este local?
Não temos registos, temos suposições. Há um poema do Lord Byron que refere Sintra como o ‘Glorious Eden’, o Paraíso glorioso. Temos razões para crer que D. Fernando conheceria este poema e que, quando chega a Lisboa para casar com a D. Maria II, em 1836, já tem mentalmente agendada esta viagem. Mas mesmo que não seja assim não nos podemos esquecer que temos lá em baixo um objeto absolutamente extraordinário, que é o Palácio Nacional de Sintra [Palácio da Vila], a residência de verão da Casa Real. A D. Maria II vinha para aqui passar os meses de verão, o D. Fernando vinha com ela e automaticamente ficaria a conhecer Sintra.
Existe alguma relação direta entre os dois palácios?
É impossível perceber a Pena sem perceber o Palácio Nacional de Sintra. Aproveito para pôr em cima da mesa alguns dos meus – como posso dizer? – aborrecimentos enquanto diretor do Palácio da Pena. Muitos colegas dizem ‘A Pena não tem história, Sintra é que tem’. É uma visão muito limitada e muito pouco informada. O que temos de perceber é que temos a História lá em baixo – acho que não há nenhum monumento em Portugal que a tenha tão bem e tão extensamente marcada como aquele palácio – e aqui temos a comemoração dessa mesma História à maneira do século XIX. D. Fernando olha para a História de Portugal e percebe que aquilo que a caracteriza em contraste com a restante história europeia são os Descobrimentos. Pega em todos os elementos manuelinos e cria na Pena uma auto-representação como alter ego do D. Manuel I. Há aqui uma inscrição em árabe que diz qualquer coisa como: ‘O sultão’ – leia-se o Rei – ‘Manuel começou este edifício como mosteiro e o sultão Fernando completou-o com um palácio’. Portanto está tudo dito.
Disse-me que o barão de Eschwege, o autor do projeto do palácio, não era arquiteto, mas sim engenheiro. Isso nota-se de alguma maneira?
Nota-se um bocadinho. Percebemos que há por vezes soluções menos dextras.
Mais amadoras?
Sim. A articulação de volumes nem sempre tem o refinamento que um arquiteto lhe consegue conceder – digo eu, que sou arquiteto. Há situações em que percebemos que o barão chegou um bocadinho aos seus limites. Mas também temos de compreender que a própria topografia não permitia uma articulação muito livre destes volumes, uma vez que estavam muito condicionados pelos penhascos que aliás dão o nome a toda esta propriedade – Pena, como sabe, vem de ‘penha’. Mas há uma coisa que a gente tem de dizer: visto de toda a propriedade, de Sintra ou dos arredores de Lisboa, o palácio funciona maravilhosamente bem. Quando estamos a passear pelo parque, aparece uma abertura na vegetação e o palácio irrompe para fora do penhasco, temos a visão de um castelo de sonho.
Um castelo de conto de fadas?
É a ideia da casa do Rei como qualquer coisa de um plano transcendente. Não nos podemos esquecer que D. Fernando já não era um Rei absolutista. Ainda para mais era um rei consorte e vinha de fora, por isso cria esta imagem muito teatral do palácio que o afirma como um elemento essencial na hierarquia da sociedade.
Falou-me no parque. O que havia antes e o que foi plantado nessa altura?
Quando o Byron visita Sintra encontra ainda a paisagem ancestral, que hoje podemos ver, por exemplo, na zona da Peninha ou mesmo no Cabo da Roca: uma vegetação muito rasteira, muito agreste, própria de um local muito rochoso, com pouca terra e muito vento. Mesmo assim, todos os viajantes e poetas, como o Lord Byron na altura, ficam absolutamente extasiados com Sintra. É essa Sintra que o D. Fernando vai alterar radicalmente. Quando chega à Pena, Eschwege começa imediatamente a plantar o parque, a encomendar árvores.
Árvores características da flora germânica?
O clima de Sintra, por ser muito húmido, mas nunca muito frio, permite ter vegetação de todo o lado do mundo: seja do Norte da Europa seja do Sul, seja da Austrália, como os fetos, seja da China, da Nova Zelândia, da América do Sul ou da América do Norte. E o que realmente se vai fazer no parque é quase construir uma mini-Terra onde estão representados vários tipos de vegetação de todos os cantos do mundo, formando um parque que às vezes assume o aspeto de uma floresta germânica, outras vezes o de um paraíso tropical. D. Fernando, ao construir a Pena e ao plantar o parque, está a criar dois elementos que são um só – tudo faz parte da Pena como objeto total.
É verdade que foi o D. Fernando quem trouxe a tradição da árvore de Natal para cá?
Ao que parece, sim. Até temos alguns desenhos [de árvores de Natal] feitos por ele. E nós fazemos gala em ter no Salão Nobre, todos os Natais, uma árvore à D. Fernando.
O que é uma ‘árvore à D. Fernando’?
É um pinheiro ou abeto – são árvores muito parecidas – pequeno, com um metro e meio. Já nos disseram que tínhamos uma árvore muito raquítica… Pois, mas se for ver as árvores de Natal do príncipe Alberto ao tempo da Rainha Vitória são exatamente iguais: uma árvore não muito grande, colocada em cima de uma mesa com uma toalha, e com peras e maçãs penduradas – nós pomos coisas de plástico, que é muito feio, mas não podemos ter fruta no polo museológico, porque apodrece e traz bichinhos. Portanto temos fruta e figuras humanas – ainda não havia os chocolates embrulhados –, e na base da árvore os brinquedos para as crianças.
Essa árvore tem algum significado especial?
A árvore de Natal tem uma simbologia muito germânica. Repare que ela aparece no período do ano de maior escuridão e do clima mais difícil, que é o solstício de inverno, a 21 de dezembro. E tem uma coisa engraçadíssima, que é a evocação das maçãs de Freyja, uma deusa nórdica cujas maçãs davam a imortalidade aos deuses. Ao mesmo tempo, os frutos – que depois deram aquelas bolas que hoje ainda lá colocamos – são uma memória do tempo de fertilidade que a primavera, o verão e mesmo o outono representam. É essa árvore que o D. Fernando traz, e é essa árvore que agora todos colocamos em casa ao lado do presépio, que, esse sim, é uma tradição nossa.
Esta exposição explora a faceta do Rei como artista. Onde, como e com quem é que D. Fernando aprendeu a desenhar?
A mãe de D. Fernando descendia de uma família de condes tornados príncipes, que tinha uma fortuna e propriedades imensas em regiões da Hungria e da atual Eslováquia. Ele cresceu em Viena e, como alguém da mais alta aristocracia europeia, foi, com os seus irmãos, criado em casa por um precetor chamado Dietz, que aliás depois vai educar o D. Pedro V e o D. Luís. É ele que o educa em todas as questões – línguas, História, Geografia, mas também desenho, música e por aí fora. Não sabemos se D. Fernando teve um professor de desenho à parte, se teve um professor de música à parte, o que é certo é que tem educação em todos estes campos, e do maior refinamento possível.
E teve um papel importante na defesa do património, não é verdade?
Sim. Conhecemos muito bem a sua ação na proteção da Batalha, na proteção dos Jerónimos, na proteção de Tomar, no apoio que deu à sociedade dos Arqueólogos e dos Arquitetos Portugueses, sabemos o apoio que ele deu aos artistas, do apoio que deu às Academias de Belas-Artes de Lisboa e Porto.
Também foi ele que salvou a custódia de Belém, não foi?
Já chegámos à conclusão de que isso é um mito urbano. O que o D. Fernando fez foi aperceber-se de que a Custódia de Belém estava fechada na Casa da Moeda, mas não era para derreter. O que é que ele faz? Quando a requisita para a Capela das Necessidades percebe que é uma peça excecional, que tem de ser mostrada e valorizada. A partir daí a Custódia começa a ter visibilidade. É a professora Maria Antónia Lopes, da Universidade de Coimbra, autora de uma biografia de D. Fernando, que conta esta história. Seja como for, ainda sabemos muito pouco sobre o D. Fernando II.
Essa biografia tem 400 páginas, não é assim tão pouco…
Mais ainda é pouco. Nós não sabemos o que ele escreveu sobre a Pena, por exemplo. Ainda não conseguimos encontrar um diário, cartas, o que quer que seja em que ele diga o que pretende com a Pena, quais são as escolhas dele, qual é o papel do Eschwege e qual é o papel dele. Mas ainda em relação à Custódia, é preciso perceber que Portugal também não tinha só pessoas ignorantes. Temos vultos como o Alexandre Herculano e o Almeida Garrett, e os próprios Reis da Dinastia de Bragança eram homens e mulheres extraordinariamente cultos. O que D. Fernando traz é a cultura romântica da visão protetora do património e isso sim, é uma lufada de ar fresco. Mas o mosteiro da Pena, por exemplo, já estava classificado como Monumento Nacional, e ele só o pode comprar em 1838 porque é o rei consorte e na condição de manter os espaços manuelinos que aqui se encontram.
Perdeu-se muito desse mosteiro com a construção do palácio?
Não muita coisa. Os espaços principais são mantidos. O claustro, que é manuelino, os espaços da antiga cozinha, a sala do capítulo, que o D. Fernando transforma em sala do café, o refeitório, que transforma em sala de jantar, toda a capela – a nave, o cadeiral, o coro, o retábulo do [Nicolau] Chanterene – tudo isso é mantido. Aquilo que o D. Fernando transforma mais é o piso superior do claustro. Seria uma estrutura modesta que ele transforma nos aposentos que hoje temos lá em cima. Mas o mais importante do mosteiro manuelino continua perfeitamente visível para quem nos visita.
Luís II da Baviera teve uma estreita colaboração com Richard Wagner e D. Fernando acaba por casar com uma cantora de ópera. Esta ligação à música é uma característica romântica?
Sem dúvida. Uma ligação à música, à literatura e à ficção do teatro musical, ou seja, à ópera. O Neuschwanstein é uma materialização de cenários de duas óperas de Wagner, o Tannhäuser e o Lohengrin. Aqui na Pena não vamos encontrar uma ligação tão direta, mas encontramos alguma. Vários viajantes e amigos descrevem que D. Fernando tinha uma voz de barítono muito bonita e que cantava até altas horas da noite em tudo o que era soirée. Diz-se – nunca consegui confirmar esta informação – que a temporada do S. Carlos se iniciava precisamente na data do seu aniversário, 29 de outubro, e o Rei tinha um camarote no Teatro de S. Carlos, que infelizmente foi destruído nas obras de remodelação de 1938-40. D. Fernando ia à ópera sempre que havia récita e é nessa situação que, em 1859 ou 1860, vê a Elise Hensler quando ela vai substituir uma cantora doente. Apaixona-se por ela e iniciam muito rapidamente uma relação que virá a dar casamento em 1869. Onde temos uma memória deste mundo operático é no chalé.
Em que sentido?
A condessa nasceu na Suíça e com 12 anos vai com a família para Boston. Forma-se nos Estados Unidos e no Conservatório de Paris, e curiosamente algumas das óperas que canta passam-se precisamente em cenários alpinos. Uma professora do Instituto de História da Arquitetura da Universidade de Zurique disse-me que era importantíssima a localização do chalé naquele ponto, devido às formações rochosas, que não sendo muito altas, remetem para as referências das montanhas da Suíça.
[o vento assobia lá fora]
Isto é o normal da Pena. É um dia bom. Já agora aproveito para fazer uma referência. Temos concertos na Pena no inverno e não há coisa mais maravilhosa do que ter um concerto com as nossas lampadinhas que imitam chamas acesas, e lá fora a chuva e o vento a fustigar as janelas. Mas à grande, não é isto.
Estava a falar do chalé…
Nós sabemos por uma joia oferecida pelo D. Fernando que é a condessa que desenha o chalé – e também aí se nota que ela não é arquiteta, porque há umas coisas mal resolvidas. Mas isso é absolutamente essencial porque ela cria na Pena um elemento romântico, mas deste romantismo subjetivo, individual. Na Pena temos uma coisa absolutamente extraordinária: temos um parque que envolve o mundo inteiro, temos um palácio que comemora a nação portuguesa, e temos o chalé, que celebra o domínio do individual e do privado. A Pena tem tudo – a gente não precisa de sair daqui para ver o romantismo europeu no seu melhor. E não estou a dizer isto por nacional-porreirismo, que cultivo com muito gosto. É mesmo verdade.
D. Fernando usufrui muito da Pena?
Ah, sim! Em todos os sentidos. Ele frui do palácio não só por cá habitar, não só por receber aqui imensa gente, não só por o ter aberto aos amigos e até a qualquer pessoa que quisesse visitar o palácio mesmo estando cá ele – houve visitantes que vieram aos terraços e ouviram uma senhora a cantar numa das salas. O D. Fernando acompanha as obras, está aqui com muita frequência – mesmo no inverno –, vem para aqui muitas vezes com a condessa, passeiam pelo Parque, vivem no chalé e fruem muito desta paisagem, das plantações que fazem. Além disso, o Palácio esteve sempre em obras. Quando a construção termina, as campanhas de decoração são constantes. Havia a moda romântica de ter muitos reposteiros, muitos tecidos, a revestir o interior do palácio. Esses tecidos apodrecem muito facilmente com esta humidade, portanto são renovados com uma certa frequência. Quando o palácio começa a estabilizar em termos de obra, começa a haver campanhas de encomendas de mobiliário e em 1880 temos campanhas de estuques. Repare que o D. Fernando começa a remodelar o antigo mosteiro em 38, depois constrói o palácio novo a partir de 40, 41, 42, e em 80, cinco anos da sua morte, há mais uma campanha. Portanto ele está não só a fruir mas permanentemente a criar.
E quando termina essa criação?
Em 1885, quando ele morre e a condessa percebe que não tem condições para manter toda esta propriedade, que inclui o Castelo dos Mouros. Nessa altura, ela, que é uma mulher inteligentíssima, inicia negociações com o Estado Português para ceder à Coroa, obviamente em troca de outros valores, o parque, o Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros.
A chuva e a humidade de que falou colocam-vos muitos problemas de conservação?
[Não consegue evitar uma gargalhada] Como é que eu posso pôr esta questão? No dia em que li as notas do Eschwege a queixar-se de que uma das salas do palácio novo, dois, três anos após a construção mete água por tudo quanto é sítio, deixei de me atormentar com essa questão. Há uma coisa muito difícil para a museologia, mas temos de aceitá-la: tudo o que fazemos aqui é muito efémero. Tivemos um restauro absolutamente exemplar que foi inaugurado em 2013, mas temos os vãos de janela com o estuque colorido já muito degradado. A pessoa tem de viver com isso.
Como se contraria essa degradação?
Com rotinas de manutenção. Sempre que chove e o vento bate a chuva, a chuva entra pela janela. O que é que a gente faz? Recuperámos os velhos chouriços. É um chouriço especial, por dentro tem uma espécie de areia granulosa que absorve aquela água toda. Quando está cheio substitui-se por outro, e aquele fica a secar. O mobiliário tem de ser constantemente monitorizado, porque há muitos elementos que se descolam. A pintura no verão está toda esticadinha, no inverno está toda ondulada. São materiais vivos – telas, tecidos, pigmentos naturais, madeiras – e estão habituados a esta situação. E nós vivemos com o reumatismo que este clima nos dá. A verdade é que a Pena está aqui há 160 anos e há de estar muito, muito tempo depois de nós já não estarmos.
Mas aqui dentro está tudo com um ar muito confortável.
Aqui dentro está. Mas se for à parte expositiva vai perceber que tem correntes de ar terríveis para quem ali trabalha. Volta não volta temos uma nuvem de nevoeiro que entra pelas salas adentro, mas como está tudo aberto o fluir do ar impede o aparecimento de fungos. E, se reparar, o palácio tem muito pouco cheiro a mofo [risos]…
Pode falar-me sobre o prazer de trabalhar na Pena?
Temos aqui um objeto muito especial, uma obra de arte total que tem uma relação privilegiada com a paisagem, com a natureza, que nos desperta sentimentos de exaltação e terror – chama-se a isto ‘sublime’. E depois temos a proteção dada pelo palácio nestas salinhas aconchegantes. Estamos a falar de coisas muito sérias: a nossa relação com a natureza e a necessidade de abrigo. Quem chega à Pena tem estas vivências primordiais da humanidade. Mas também é preciso dizer que o D. Fernando era um homem muito irreverente. Quando casou com a condessa, disse que ia seguir o seu coração e não olhar a «preconceitos tolos». Era um homem feliz e não convencional. Portanto espero estar à altura dele e de vez em quando andamos aí aos gritos e aos risos, porque a Pena é um local muito sério, mas muito irreverente e de felicidade.
D. Fernando era irreverente até que ponto?
Esta ideia do palácio romântico no topo da montanha, do príncipe looouco gritando através do nevoeiro – é mentira. Ele gostava era de cantar e dançar até altas horas da noite. Aliás há uma história deliciosa. Quando o D. Fernando chegava às duas da manhã, era o filho – um homem mais formal, mais sério e muito inteligente – quem ia abrir as portas do Palácio das Necessidades. E o D. Fernando perguntava-lhe o que estava ele ali a fazer.
E o que respondia o filho?
Que não queria que os criados vissem as figuras tristes que ele fazia ao chegar tarde e a más horas a casa.