1.Marcelo Rebelo de Sousa mantém incólume o seu estatuto de Presidente pop star: dentro das fronteiras portuguesas e mesmo fora delas. É o Marcelo fixe. É o Marcelo, amigo do Povo. É o Marcelo que é moderado, centrista, cristão, católico, do Porto, do Benfica, do Sporting, do Sporting de Braga, do Gafanha da Nazaré…de todos. É o Marcelo social-democrata. É o Marcelo social-cristão.
É o Marcelo socialista, admirador de Mário Soares. É o Marcelo comunista, que vai à Festa do Avante e rejubila-se com Fidel Castro, durante mais de uma hora. Enfim, o nosso Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é a concentração de todas as famílias políticas, de todas as ideologias políticas que a Humanidade foi produzindo, de todos os partidos políticos portugueses. É o Marcelo que é tudo, que faz tudo – e que vai a tudo. Ao No Vaticano como em Cuba, Marcelo está em casa.
2.De facto, como já foi assinalado, a viagem presidencial a Cuba correu muito bem – logrando até merecer uma breve atenção de alguma imprensa internacional devido à amena cavaqueira de Marcelo com Fidel Castro, o querido líder comunista que virou, ele próprio, “pop star”. É o que acontece com todos os comunistas na América Latina – condenam o seu povo à miséria, mas como são personagens “queriduchas” viram estrelas de marketing. É, de facto, uma estranha coincidência: as figuras referenciais do comunismo viram figuras muito bem popularizadas pelo capitalismo.
Se Fidel Castro não deixar legado melhor, ao menos saberemos, com segurança, que servirá para criar postos de trabalho, criar riqueza, mediante a venda de camisolas, canecas, copos, bandeiras, posters e produtos afins. Não há bom comunista que não vire um bom capitalista – nem que seja “post mortem”. Assim foi com Che Guevarra; assim será com Fidel Castro.
3.Quanto à viagem de Marcelo propriamente dita, nada temos a acrescentar. O essencial já foi dito e redito. Apenas recordamos uma interrogação, a qual já formulámos em momentos anteriores: qual o interesse estratégico – ou, segundo um critério menos exigente, qual a racionalidade política – de vigem a Cuba?
Qual o benefício para Portugal? Qual o seu valor estratégico? O que ficou das já muitas viagens de Marcelo Rebelo de Sousa – ao Vaticano, a Espanha, à Suíça, ao Brasil, a França, à Alemanha? Esperemos que o Presidente responda brevemente – nem que seja nos seus “Roteiros” que promete publicar quando perfizer um ano do seu mandato.
4.Agora, verdadeiramente interessante foi a companhia de Marcelo Rebelo de Sousa na viagem. Pela primeira vez, foi acompanhado por uma comitiva parlamentar – um deputado de cada grupo parlamentar, excepto do Bloco de Esquerda. E o pormenor mais interessante veio do representante do PSD – o grupo parlamentar social-democrata foi representado nada mais, nada menos do que…pelo seu líder, Luís Montenegro.
4.1.Perguntará o leitor mais crédulo: o que tem a ida de Luís Montenegro a Cuba, com Marcelo, assim de tão extraordinário? Em primeiro lugar, um partido de centro-direita, que sempre se opôs às políticas mais agressivamente comunistas de Fidel Castro, enviar o seu líder parlamentar já é insólito. Cuba não é certamente um parceiro estratégico do PSD – nem Fidel Castro é muito popular entre as bases sociais-democratas.
4.2.Em segundo lugar, note-se que os restantes grupos parlamentares enviarem representantes de segundo ou terceiro plano político – com excepção do PCP, que enviou o histórico António Filipe (percebe-se: o PCP tem como grande referência ideológica moderna, Fidel Castro – pois não clamar à vontadinha a sua admiração por Joseph Staline).
Senão, vejamos: o CDS enviou Hélder Amaral (o caixeiro-viajante do CDS – o homem das viagens, sempre pronto para embarcar) e o PS enviou Idália Serrão (que ninguém sabe quem é). O PSD enviou…o seu líder parlamentar! O número 1 do seu grupo parlamentar! Mais respeito e admiração por Cuba eram impossíveis.
4.2.1 Ainda para mais, Luís Montenegro – líder parlamentar do PSD – resolveu ir com Marcelo Rebelo de Sousa para Cuba em pleno momento de início de discussão política, séria e relevante, sobre o Orçamento de Estado! O PSD organiza umas jornadas parlamentares sobre o Orçamento de Estado – e o seu líder no Parlamento foge para Cuba com o Presidente! Isto cabe na cabeça de alguém? Quando o grupo mais precisa do líder, quando é importantíssimo que o líder parlamentar apareça para denunciar a “navegação à vista” do Orçamento da geringonça, Luís Montenegro vai servir de “chaperon” de Marcelo Rebelo de Sousa para Cuba? Não se compreende!
5. Nos bastidores, diz-se que foi o próprio Marcelo Rebelo de Sousa que sugeriu o nome de Luís Montenegro para o acompanhar. E esta versão faz sentido: a enorme admiração de Marcelo por Montenegro é pública e notória. Admiração, essa, aliás, que gerou o momento mais insólito que um Presidente já cometeu na história da democracia portuguesa.
Referimo-nos, claro está, à presença de Marcelo, sem razão nenhuma aparente ou razoável, na cerimónia de homenagem a Luís Montenegro, em Espinho, poucos dias depois de Marcelo ter tomado posse. Nesta cerimónia, Marcelo – no exercício das suas funções de Presidente da República, e não a título pessoal – afirmou que Montenegro terá um futuro político brilhante e está destinado a altos voos.
Leia-se: Marcelo Rebelo de Sousa quer Luís Montenegro como líder do PSD. E fontes próximas de Marcelo confirmam que os dois têm falado regularmente (Marcelo fala muito mais com Luís Montenegro do que com Pedro Passos Coelho, líder do PSD e, por inerência, da oposição).
E porquê? Porque, nas movimentações para suceder a Pedro Passos Coelho que se desenvolvem no seio do partido, Luís Montenegro é o candidato patrocinado por Miguel Relvas .
Nesta candidatura poderão confluir nomes como José Eduardo Martins ou Pedro Duarte – os homens mais próximos de Marcelo nos dias que correm. Não se esqueça que foi Mauro Xavier, líder da concelhia do PSD/Lisboa e uma espécie de secretário político de Miguel Relvas, que convidou José Eduardo Martins para coordenar do programa autárquico do PSD para Lisboa!
Relembramos que Pedro Duarte foi o director de campanha oficial de Marcelo – e Miguel Relvas foi o director de campanha oficioso de Marcelo Rebelo de Sousa. Podemos dizer que Miguel Relvas é o conselheiro político não oficial mais importante do Presidente – e que Marcelo mais ouve. Ora, sendo Luís Montenegro o candidato patrocinado por Miguel Relvas, a conclusão é inevitável: Luís Montenegro é oficialmente o candidato preferido de Marcelo Rebelo de Sousa para suceder a Pedro Passos Coelho.
6.Perguntamos, em jeito de conclusão: será que Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro tiveram oportunidade de conversar a sós sobre os avanços de Rui Rio no controlo da máquina do PSD? E falaram sobre como montar a estratégia para liquidar Pedro Passo Coelho? Será que Marcelo contou a Luís Montenegro o que quis dizer com o início de um novo ciclo político com as autárquicas? Apostamos que sim.
7.Uma coisa é certa: Marcelo Rebelo de Sousa não consegue viver sem o jogo político-partidário – faz parte da sua maneira de ser. Marcelo Rebelo de Sousa será uma presença diária, constante, nos jogos , manobras e esquemas de conquista do poder no PSD.
8.O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa quer mandar no PSD. Porque pessoalmente também lhe interessa. Quem não estiver bem ciente desta realidade, mais tarde ou mais cedo, vai-se arrepender. E muito!