Porquê? Porque conseguiu justificar o caso do seu amigo, sem se justificar. Mais concretamente: o Ministro arranjou maneira de ter uma entrevista, na SIC, aparentemente para falar sobre educação e políticas educativas – e, a título acessório, aproveitou para se desresponsabilizar da polémica do seu amigo e colaborador no Ministério, garantindo que não sabia e que não tem qualquer ligação (funcional, política ou outra) com o caso.
Obviamente que esta é uma demonstração cabal de que nem sempre , em política, o que parece, é: Tiago Brandão Rodrigues deu esta entrevista apenas para estancar os danos reputacionais que o caso da licenciatura falsa em dose dupla de Nuno Félix lhe está a provocar.
A única pergunta que aqui se impõe é a seguinte: Tiago Brandão Rodrigues ainda não se demitiu? Nós temos a máxima admiração pelo percurso académico de Brandão Rodrigues – pelas suas qualidades de investigador, pelo seu mérito científico, pelos avanços que já nos deu (a nós, Humanidade) em matéria de desenvolvimento científico de soluções para curar enfermidades que tantas vidas (ingratamente) ceifam.
Portanto, o nosso conselho, que aqui deixamos a Tiago Brandão Rodrigues, é um conselho de amigo: volte rapidamente e em força à a sua actividade de investigador internacionalmente reconhecido. É assim que mais pode contribuir para o interesse público. É assim que realiza a sua vocação. É assim que se sente confortável.
Para quê manter-se como assistente de Mário Nogueira? Para quê dar a cara por um projecto educativo sectário, ideologicamente fanático, que nós sabemos que o próprio Tiago Brandão Rodrigues repudia? Sua Excelência, que tão bem conhece o sistema de ensino britânico, americano e outros internacionalmente reconhecidos, por que insiste em impor em Portugal um modelo de ensino já ultrapassado à medida de interesses corporativos (que não são dos professores, mas do sindicato comunista dos professores)? Para quê, Tiago Brandão Rodrigues? É um excelente investigador – mas um péssimo Ministro. Um Ministro que se deslumbrou com o poder…e com Mário Nogueira.
E a verdade é que moralmente a sua continuidade como Ministro da Educação é insustentável. Então, o Sr.Ministro tentou aguentar um seu amigo que proclamava ter duas licenciaturas e, afinal, não tinha nenhuma? As suas justificações até agora não convencem: é que há um seu ex-colaborador de Ministério que garante que o Sr. Ministro sabia da fraude do seu amigo. E esse seu colaborador até saiu do Governo devido a este caso!
Ora, o Sr. Ministro não é um Ministro qualquer – é o Ministro da Educação. Que deveria pugnar pela verdade, pelo rigor, pela transparência, pela imparcialidade, pelo repúdio por qualquer fraude académica. Como pode lutar por estes valores, como poderá cumprir o seu dever de os fazer cumprir – se nem no seu próprio Ministério consegue fazer?
Pois bem, Sr. Ministro, o seu problema é um problema de autoridade. Se fosse o Ministério da Agricultura ou do Mar, o caso seria grave, mas não insustentável. Já para si, sendo Ministro da Educação, o caso é grave – e é insustentável. Porque os alunos portugueses precisam de exemplos. Porque os professores portugueses precisam de um referencial de credibilidade, de autoridade democrática sem a qual não há uma educação rigorosa, séria e, logo, socialmente justa.
Ora, o Sr. Minsitro (oficial) Tiago Brandão Rodrigues já não é um exemplo positivo para os alunos – pelo contrário, é o rosto da defesa ou, no mínimo, da conivência com a “chico-espertice”. E há muito que deixou de ser um referencial de credibilidade e de rigor, muito menos de autoridade – a partir de agora, sempre que o Ministro falar de exigência e verdade na avaliação, os professores (diferentes de Mário Nogueira), todos dirão: “ este só se lembra de rigor para os outros; já para os amigos…”.
Toda esta situação pode ser injusta? Pode. Mas é a única consequência política admissível: Tiago Brandão Rodrigues terá de se demitir. Como Ministro, e como a pessoa que escolheu Nuno Félix para chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, tem uma responsabilidade objectiva pela fraude das duas licenciaturas. O Ministro, cujo colaborador cometeu uma fraude à educação, não pode ser o responsável máximo pela educação. É uma questão cívica…
E para Tiago Brandão Rodrigues será melhor: voltará ao sítio onde é verdadeiramente feliz e magistralmente produtivo –à Academia, na investigação científica.