A relação com o mar começou desde muito novo, mas o surf não foi a primeira opção. Arrancou no bodyboard mas “os pés de pato faziam confusão”. No mar encontrou outra paixão – a vela – mas rapidamente percebeu que queria saltar do barco para a prancha, mais uma vez. Agora sim, Bruno entrava no surf. Para ficar.
A nível competitivo confessa que “nunca teve grandes resultados” porque “faltava muita dedicação”. Os treinos eram feitos por ele e a companhia era o cronómetro. Hoje não tem dúvidas que o investimento no surf permite aos mais jovens olharem para a modalidade de outra maneira.
“Hoje em dia olhamos para o circuito esperanças e todos os miúdos têm patrocínios. Na minha altura, cheguei sempre às meias-finais e só dois ou três que iam à final tinham patrocínio. Agora está-se a investir muito mais. Se aparecesse agora um miúdo na Nazaré e começasse a surfar bem facilmente arranjaria um apoio. Isto envolve um grande investimento”, conta o miúdo que foi apanhando ondas com a ajuda da mãe, quando lhe ofereceu a primeira prancha.
A partir daí o truque de Bruno era trabalhar e vender a prancha que tinha para conseguir comprar uma nova. Conhecer as pessoas certas também ajudou “porque conseguia arranjar material mais barato”, acrescentou.
Foi com surpresa que recebeu o wild-card (de atleta local) para entrar no Capítulo Perfeito porque “a Nazaré anda muito mediática” e isso tem o seu lado positivo principalmente na “economia local”, afirma Bruno Grilo que, ao olhar para trás, não consegue deixar de reparar no crescimento dos últimos anos: “há 10 anos chegávamos, com altas ondas, e a praia estava vazia. Agora chegamos e está cheia de gente [surfistas]”.
O campeonato faz Bruno Grilo regressar a casa. Aos 30 anos vive nos Açores, é Professor de Educação Física, “o que queria ser desde miúdo”, e pai. Quando lhe perguntamos com que frequência faz surf, junta o fator paternidade e a elasticidade que ganhou entre trampolins para responder: “fui pai há pouco tempo. Por isso, para fazer surf ou abdico do almoço ou me levanto mais cedo. Tenho que fazer ginástica no horário”. Mais do que a competição o surf é um estilo de vida aos olhos de Bruno Grilo e por isso pede “respeito pelos surfistas locais”. Bruno alerta que esta devia ser “a regra de etiqueta no surf”. Mas e o que é ao certo ter respeito pelos locais? Bruno explica que “quando vem a onda do set e esta está no pico os surfistas locais é que merecem apanhar a onda, se não torna-se uma anarquia”.
Bruno relembra uma viagem que fez à Califórnia “que no início detestou”. Uma viagem que ficou marcada na memória de Bruno pela dificuldade em apanhar uma onda. “Todos se metiam nas ondas uns dos outros. Nem os surfistas locais, de grande nome, respeitavam”, afirmou, ainda com um ar incrédulo.
“Claro que cá não há a violência que há no Havai mas isto torna-se uma anarquia. Convém que esta regra seja cumprida”, avisa Bruno. E quem avisa, seu amigo é.
A boa disposição e o sorriso são uma constante em Bruno que apesar de ter sido eliminado na segunda ronda, confessa que a “desilusão” maior foi outra. Bobby Martinez, o ídolo de Bruno Grilo, foi um dos surfistas que foi substituído à última hora e o nazareno “adorava ver o Bobby a surfar na sua praia”.
Bruno Grilo não precisou de pensar dois segundos quando lhe perguntamos quem pode vir a ser ‘o próximo Saca’. Tem a resposta na ponta da língua e desengane-se se acha que está entre Frederico Morais, Nic Von Rupp ou Vasco Ribeiro.
“O Afonso Antunes, filho do João Antunes. Já foi campeão nacional, campeão europeu. O miúdo está um patamar acima, está a trabalhar muito bem com o pai. Esteve agora nos Estados Unidos e fez finais no campeonato nacional nos EUA que é um campeonato muito competitivo e isso quer dizer que ele é mesmo muito bom.”, concluiu.