1.O jornal “i” continua a marcar a agenda política mediática. Ontem , com a revelação dos emails que o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, tentou ocultar e negar; hoje, com uma entrevista muito curiosa – e ainda mais politicamente significativa – de José Eduardo Martins. Para os mais distraídos ou esquecidos, relembramos que José Eduardo Martins há muito que se quer perfilhar como a alternativa de primeira linha a Pedro Passos Coelho – e foi recentemente escolhido para coordenador do programa autárquico do PSD a Lisboa, pelo Presidente da Comissão Política local (Mauro Xavier de seu nome).
Ora, o que vem dizer José Eduardo Martins? Para já – numa entrevista magnificamente conduzida pela jornalista Rita Porto -, José Eduardo mantém o seu estilo muito peculiar, com frases simplistas, de elegância estilística discutível e, aqui e ali, a revelar uma excessiva leveza (expressiva e até de pensamento – o que é mais bem grave).
Exemplos? Veja-se esta tirada: “ Eu não me escondo, vou ao Congresso e digo o que penso. Mas até uma das características patuscas do PSD é a quantidade de zés-ninguém que passam a vida a fazer política através dos jornais”. Esta frase não deixa de ser caricata – José Eduardo Martins, patuscamente, ataca José Eduardo Martins. Porquê?
1.1.Em primeiro lugar, impor-se-ia saber quem são esses “zés-ninguéns”. Ora, o único “Zé” que tem aproveitado os jornais e a televisão para prosseguir fins políticos (posicionar-se privilegiadamente para substituir Passos Coelho na liderança do PSD) – tem sido precisamente o “Zé” Eduardo Martins. Resta saber (situação que ainda não investigámos) se “Ninguém” é um dos apelidos que compõem a identificação civil de José Eduardo Martins.
Será o seu nome completo – José Eduardo Ninguém Martins? É que se o for, nós percebemos a afirmação do coordenador do programa autárquico lisboeta do PSD. Se não se chamar “ninguém”, tal afirmação é incompreensível.
Significa que, na visão do mundo de José Eduardo Martins, a sociedade está dividida entre o “Zé Eduardo Martins”, que é genial, brilhante, talentoso e super-inteligente; e os outros “Zés” – que somos nós todos – que não têm relevância nenhuma, são uns grunhos e uns ignorantes de topo. Convenhamos que esta é uma visão muito pouco democrática da política, da sociedade e até da vida.
1.2. Em segundo lugar, é uma afirmação patusca, de alguém que se colocou numa posição patusca – para uma tarefa muito patusca. É que a crítica aos “zé-ninguéns” patuscos surge para defender o seu papel na preparação do programa eleitoral do PSD/Lisboa. Diz José Eduardo Martins: “ qual é a surpresa que na disputa da CML, o PSD esteja unido nas suas várias formas de pensamento?”. Ora, a questão está erradamente formulada.
A questão correcta é a seguinte: “ como e para que ê, com que sentido, preparar um programa eleitoral para Lisboa – quando ainda nem sequer se definiu quem é o candidato? E quando o próprio coordenador do Programa anunciou que, em Março, entrega o programa ao PSD/Lisboa e diz adeus?”.
Só nas cabecinhas bem pensadoras de José Eduardo Martins e de Mauro Xavier é que faz sentido convidar alguém para coordenar a elaboração de programa de uma candidatura que ainda nem sabe quem irá protagonizar – e ao que parece ainda nem sequer está pensada! Que várias formas de pensamento são estas que estão unidas na candidatura a Lisboa, de que fala José Eduardo Martins? É que nós só conhecemos desta candidatura (que não existe, mas existe!) o próprio…José Eduardo Martins?
2.Esta situação é ridícula – quem será o candidato que vai aceitar candidatar-se em nome alheio? EM representação do programa de José Eduardo Martins? Sós e for uma pessoa sem tino – o que já não abona nada a favor do candidato.
Qualquer candidato que concorra em nome de José Eduardo Martins, será um candidato limitado e ferido de morte política – Fernando Medina dirá sempre “mas isso é o seu pensamento ou pensamento de José Eduardo Martins? Foi José Eduardo Martins que lhe contou isso?”. Já para não dizer que, confrontado com questões sobre o seu programa, este candidato teria sempre que perguntar a José Eduardo Martins queria dizer com determinada proposta do programa! Seria um triste espectáculo que só humilharia o PSD!
3.Neste sentido, a partir do momento em que José Eduardo Martins aceitou o convite para coordenar o programa do PSD/Lisboa, tem o dever moral de protagonizar uma candidatura. Se tem motivação e se acha (como o próprio confessou) “ que a concelhia do PSD vem pedir um bocadinho –desculpem a imodéstia – da minha inteligência para ajudar a fazer um trabalho e eu ia dizer que não?
Claro que disse que sim” – então que não tenha medo de submeter a sua inteligência aos eleitores lisboetas, submetendo o seu programa a votos; e dando a cara pelo mesmo. Até parece que José Eduardo Martins tem medo de ser avaliado pela sua capacidade de ganhar eleições…
4.Por último, José Eduardo Martins, pela primeira vez, assumiu a possibilidade real de o PSD apoiar a candidatura de Assunção Cristas a Lisboa. Se assim for, a gestão política do dossiê autárquico de Lisboa – por parte de Mauro Xavier, de José Eduardo Martins e do próprio Passos Coelho – é desastroso.
4.1.Primeiro, porque apoiar a líder do CDS dá uma imagem de impotência política do PSD – o partido maior não tem quadros e precisa de os ir buscar ao partido menor, que é o CDS, para protagonizar uma candidatura autárquica à capital de Portugal. O apoio do PSD ao CDS, em Março, parecerá uma solução de recurso, ditada pela falta de alternativas.
4.2. Segundo, se o PSD quer apoiar Assunção Cristas, porque diabo José Eduardo Martins está a coordenar um programa autárquico? Dir-se-á que é para negociar com a líder do CDS.
Mas o que vão negociar em Março ou Abril, quando as eleições são em Outubro? Alguém acredita mesmo que Assunção Cristas – uma mulher determinada, que sabe muito bem o que quer e para onde vai – se colocará no papel de defender ideias propostas por José Eduardo Martins?
Nessa altura, quem estará em posição de força será Assunção Cristas – não será o PSD, que já não terá alternativa senão apoiar a candidata do CDS.
5.E não pense José Eduardo Martins que, em caso de derrota do PSD em Lisboa, poderá colocar a viola no saco e fingir que nada teve que ver com a derrota – não. A partir do momento em que escreve o programa, José Eduardo Martins será um dos responsáveis objectivos pelo resultado que o partido vier a obter.