Não querendo, mesmo após meses de propaganda em que o governo indicou que o ia fazer, pagar antecipadamente 4 000 milhões de euros ao FMI, que dos membros da troika é o que nos cobra as taxas de juro mais elevadas, tentar renegociar os empréstimos com a União Europeia (UE) é a segunda melhor opção. Não é a melhor, mas trata-se de uma iniciativa louvável, e que já teve sucesso no passado: as taxas de juro que pagamos à UE já foram substancialmente reduzidas, e o prazo de reembolso da dívida largamente aumentado.
Vamos às contas. Devemos 52.000 milhões de euros à UE, dos quais, a uma taxa de juro que eu li algures, mas muito recentemente, ser de 2,2% ao ano, pagamos anualmente de juros 1 144 milhões de euros. Se Centeno for bem-sucedido, e conseguir uma boa redução na taxa de juro, como 1%, a poupança anual será de 520 milhões de euros. E como, segundo o IGCP, a entidade que gere a dívida pública portuguesa, faltam 12,7 anos para o empréstimo ser pago, a poupança total ao longo desse período totalizará 6 604 milhões de euros.
Não posso, pois, estar contra a iniciativa de Centeno, porque todas as poupanças com juros são preciosas. Mas estou apenas a especular nessa poupança: que nos reduzam a taxa do empréstimo de 2,2% para 1,2% pode ser uma projeção demasiadamente otimista. E, como referi há dias, se pagássemos antecipadamente ao FMI os 4.000 milhões de euros que foram amplamente noticiados, financiando-nos no mercado para substituir esse reembolso, a poupança anual em juros, no total dos cinco anos de antecipação do pagamento, seria de 480 milhões de euros.
No final, fico com uma suspeita terrível: que a iniciativa de Centeno (que acho ser um homem sério, mas que tem de agradar a muita gente ao mesmo tempo) de renegociar os juros não passe de uma manobra de marketing político, para tentar apagar o efeito negativo que o cancelamento do reembolso antecipado ao FMI deixou. Uma notícia positiva para anular uma negativa.
Posso estar enganado. Mas, se eu estiver certo e a iniciativa de Centeno for apenas uma manobra de marketing político, com poucos ou nenhuns efeitos práticos, gostaria que o governo soubesse que eu, como qualquer pessoa, detesto que me tomem por parvo.