Segundo a primeira página do Sol de hoje, Mário Centeno abandonará o governo já em janeiro, depois de fechadas as contas de 2016. Será acompanhado na saída por pelo menos um dos seus secretários de Estado, Fernando Rocha Andrade, secretário de Estado dos assuntos fiscais, e por Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia. Boa parte da equipa económica do governo vai ser assim remodelada.
O motivo da saída de Centeno será a provável obrigatoriedade da divulgação dos rendimentos e dos patrimónios dos membros da administração da Caixa Geral de Depósitos. De acordo com o Expresso, António Costa tinha garantido à nova administração da CGD que não teriam de revelar rendimentos e patrimónios. Como, com grande probabilidade, seriam agora obrigados a fazê-lo, dado que existe um quase consenso político nesse sentido. Só o PS é contra a divulgação, e não por unanimidade. Quanto à nova administração da CGD, prefere demitir-se em bloco a entregar as declarações, sempre segundo o Expresso.
O que eu gostaria de saber é como é que as cabeças brilhantes que exigem a divulgação dos rendimentos e dos patrimónios dos administradores da CGD vão arranjar uma equipa de gestão tão boa e que esteja disposta a divulgar tudo o que tem e que ganha. O CEO que deverá estar de saída, António Domingues, vinha do BPI, um banco indiscutivelmente bem gerido. Será muito difícil, se não impossível, encontrar uma equipa de qualidade semelhante, pelo mesmo custo, e que esteja disposta a revelar publicamente a sua situação financeira. É provável que a CGD continuará a dar prejuízos, gastando assim o dinheiro do aumento de capital que os contribuintes se preparam para fazer. Absolutamente brilhante.
Quanto â saída de Centeno, vai “apenas” sair o ministro das Finanças que conseguirá o défice orçamental mais reduzido desde 1973, isto é, dos últimos 43 anos. Sempre afável e intelectualmente honesto, provavelmente voltará para a prateleira no Banco de Portugal onde estava colocado. É uma grande perda e um estupido desperdício das enormes capacidades de Centeno. Acho que brevemente vamos ter saudades dele. E, francamente, não sei quem o poderá substituir com tanto brilho.
Por fim, resta concluir que este é o primeiro abalo sério na geringonça. Afinal, nem foi preciso esperar pelas autárquicas do ano que vem – e que já mobilizam os aparelhos partidários – para aparecer a primeira racha séria neste arranjo político. A direita tem motivos para festejar. Quanto à geringonça, vamos agora ver se se aguenta melhor ou pior.