Enquanto a esquerda fala em aumentar pensões e investir mais na saúde e na educação, a direita sonha com quedas de impostos, de forma a tornar o país mais atrativo para o investimento. Provavelmente, uma mistura destas quatro coisas seria o mais adequado.
Surgiu a ideia de reembolsar antecipadamente 4.000 milhões de euros ao FMI, que dos membros da troika é o que nos cobra juros mais elevados. A ideia era boa. Entre pagar 4,3% por ano ao FMI e 1,9% no mercado, que é quanto se está a pedir pela dívida portuguesa a cinco anos, a poupança anual seria de 96 milhões de euros, o que ao fim do quinquénio 2016 – 2020 (data em que os 4.000 milhões de euros terão mesmo de ser pagos ao FMI), a poupança total em juros seria de 480 milhões de euros. Uma quantia jeitosa. Mas, má sorte, a iniciativa teve de ser abandonada. É que pode sempre haver instabilidade nos mercados, vedando o acesso de Portugal a novo endividamento, pelo que dá sempre jeito que esses 4.000 milhões de euros façam parte da “almofada de segurança” da República Portuguesa. Razões de prudência, longe de serem descabidas.
Mas aqui criou-se um problema na comunicação com a opinião pública: é que o reembolso antecipado do dinheiro ao FMI já tinha sido anunciado, e deixa-lo cair teve um saber a derrota. Foi uma má notícia para o governo. Ora, como se combate o efeito de uma má notícia? Claro, com uma boa notícia!
Desta forma, tivemos sintonia no parlamento entre Mariana Mortágua e Mário Centeno: sim, Portugal paga demasiado em juros de dívida. Centeno, seguro de como tal deveria ser feito, precisou: “no contexto europeu”. Mas, “hélas”, a má sorte não o abandonou. Leio no Jornal de Negócios que o presidente do eurogrupo (conjunto dos ministros das finanças da zona-euro), e ministro das finanças holandês, Jeroen Dijssebloem, deu uma resposta curta e grossa quando inquirido pelos jornalistas se o eurogrupo iria discutir a redução das taxas de juro portuguesas: “Não discutimos, nem vamos discutir porque Portugal é capaz de gerir a sua dívida”. Como quem diz: “vá lá, vocês já são grandinhos”.
Mais uma derrota para Centeno, pessoalmente, e para todos nós, genericamente. É que as poupanças iam ser mesmo importantes. Como devemos 52.000 milhões de euros à União Europeia, uma redução de 1% nos juros iria traduzir-se numa poupança anual de 520 milhões de euros. Pouparíamos mais só num ano do que nos cinco anos do fracassado reembolso antecipado ao FMI.
Portanto, as más notícias sobre poupanças dos juros da dívida continuam a assombrar este governo. Há que equilibrar o orçamento e ir pagando as dívidas, é tudo. Quanto a tentar manipular a opinião pública, tem que se ter muito cuidado. Como dizia aquele spin-doctor de uma série britânica, desalentado: “I´m abandoning the dark arts”.