“O Manel Monteiro já chegou?”, pergunta à entrada um deputado ligeiramente atrasado. À porta do lobby do Hotel Cidadela, em Cascais, ainda estavam muitos militantes da Juventude Popular e do CDS. Havia descontração no ar. Francisco Rodrigues dos Santos, o presidente da “jota”, ia cumprimentado quem chegava.
A ocasião, na noite deste sábado, celebrava os 42 anos da juventude partidária dos centristas. Manuel Monteiro foi dos primeiros a chegar. Assunção Cristas, dos últimos. O encontro entre o antigo e a atual líder do partido deu-se à entrada da sala de jantar. A conversa não foi longa e ficaram separados nas duas mesas de honra da festa. Monteiro deixava os militantes irem entrando – os líderes costumam chegar em último para serem recebidos por uma sala cheia, e o conservador parece não ter perdido o hábito. Uma alma discreta encaminhou-o para que os aplausos da chegada fossem para a atual presidente. E a receção, sim, foi animada. Duzentos e cinquenta jovens batiam palmas a Cristas que, não tendo um percurso na JP, tem mostrado um discurso amigo da estrutura.
Francisco Rodrigues dos Santos continuava a desempenhar o papel de mestre-de-cerimónias e circulava entre as várias mesas redondas. Entre os jovens, ouviam-se piadas e risos, e chegavam jarros de cerveja fresca. Brindes vários.
Cristas com Magalhães, Monteiro com Lobo d’Ávila A primeira mesa de honra era “presidida” por Cristas, ladeada pelo vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes e por Francisco Rodrigues dos Santos, com Nuno Magalhães, líder da bancada parlamentar, e Pedro Morais Soares, secretário-geral do partido.
Na outra mesa de honra estava Monteiro, com Anacoreta Correia, Filipe Lobo d’Ávila, o vereador João Gonçalves Pereira e antigos líderes da Juventude Centrista, como Nuno Correia da Silva.
Para a Assembleia Rodrigues dos Santos abriu a cerimónia com um discurso sobre o Prémio Ricardo Medeiros, que distingue o militante do ano da juventude. O vencedor foi Alonso Miguel, líder da JP/Açores, que foi eleito deputado nas recentes eleições para a Assembleia Regional. Rodrigues dos Santos saudou o companheiro, considerando-o um exemplo de “dedicação e humanismo”. Alonso, já doutorado, “subiu a pulso”, estudando à noite e trabalhando de dia. O açoriano recebeu o prémio fazendo várias menções de agradecimento à sua equipa local e aos órgãos nacionais do partido e da jota. Alonso esteve em sintonia com o discurso de Rodrigues dos Santos, defendendo o papel da Juventude Popular na representação parlamentar. O galardoado apontou mesmo Rodrigues dos Santos como um “belíssimo futuro representante do CDS, da JP e dos portugueses”. Neste momento, os centristas são os únicos sem representação juvenil na Assembleia da República. Rodrigues tem vindo a lembrar que a juventude pode dar um contributo a nível autárquico, regional e também nacional. Cristas também o reconheceu na sua intervenção.
Ao i, João Gonçalves Pereira, também ele com um percurso na jota, recordou: “Nomes como eu, Cecília Meireles, Telmo Correia, João Almeida e Filipe Lobo d’Ávila vieram da juventude partidária e houve sempre a natural ambição de ter representação parlamentar e autárquica; numa liderança dinâmica e carismática como a atual, justifica-se plenamente.”
De direita Rodrigues dos Santos tornou a falar, passando em revista o percurso histórico da jota do CDS “contra a ditadura de sinal contrário que queriam impor em 1974” e na sustentação de valores como “a liberdade e o pluralismo”. O jovem advogado afirmou que “um cartão da JP não é um livre-trânsito para a função pública”, contrariamente ao que se passará com “os partidos do centrão”. Aí, Alonso Miguel mostrou mais uma vez sintonia com o discurso do líder, lembrando ao i que, “se alguém quiser entrar na política por interesses, não vai para a JP/Açores de certeza”; daí considerar os seus militantes “de valor acrescentado”.
O discurso final de Francisco Rodrigues dos Santos foi aplaudido de pé pela sala quando o atual presidente da Juventude Popular declarou a sua gratidão aos antecessores: “Obrigado Luís Queiró, obrigado Manuel Monteiro, obrigado Nuno Correia da Silva”. Rodrigues dos Santos reuniu assim a sua família política, ultrapassando as polémicas entre o partido e Manuel Monteiro desde a ascensão de Paulo Portas. “Nós temos memória e aceitamos a história na sua integralidade”, esclareceu.
Valores vs. pragmatismo Monteiro apreciou o discurso do líder da jota. “O discurso do presidente da Juventude Popular foi extraordinário”, salientou o professor universitário ao i. “Fala em valores, e não só em pragmatismo”, completou. A ausência de “medo de ser de direita” que Rodrigues defende entra, de facto, em linha com o que Monteiro defendera nos seus tempos. Monteiro relembrou que estava presente como antigo líder da juventude e não como ex-presidente do partido, ou seja, um regresso à militância está fora de hipótese, não negando que poderá voltar a eventos da JP.
Assunção Cristas fechou o evento com elogios à Juventude Popular e ao sucesso da campanha nos Açores. A líder do CDS fez um aceno de cabeça ao discurso de Rodrigues dos Santos, usando uma frase que a jota tem transportado. “Queremos pôr os pais a votar nos filhos, e não os filhos a votar nos pais.” Para Cristas, “a política não é profissão, é serviço, e em todas as idades”, pronunciando-se veementemente contra “o carreirismo” que tanto vê noutros partidos. A presidente centrista falou das recentes propostas que o partido tem lançado para “uma política fiscal amiga das famílias” e da estratégia “pragmática e ambiciosa” que o CDS definiu para as autárquicas do próximo ano, em que ela própria será candidata para Lisboa.
À saída, um círculo de jotas curiosos rodeou Manuel Monteiro, que conversou com os jovens por largos minutos. A mais requisitada para fotografias, porém, continua a ser Assunção Cristas.