Medina, o sacrificado (II)

Por mais que o PS, António Costa e Fernando Medina batessem na tecla da municipalização do Metro e da Carris, o PCP, durante dois anos, resistiu sempre. Não queria a municipalização, queria que os transportes se mantivessem na esfera do Governo central. 

Deviam ter soado campainhas de alarme quando, em finais de Setembro deste ano, Bernardino Soares, o presidente comunista da Câmara de Loures, veio contestar que a autarquia lisboeta (PS e independentes de Helena Roseta) ficasse a gerir a Carris e o Metropolitano, serviços que, no seu entender, deverão ficar «sob alçada de uma entidade supramunicipal pública».

De repente, tudo se precipita. Perante a vergonha e o escândalo da falta dos bilhetes do Metro, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, obrigado a aparecer, declara que tudo não passa de um azar, passando as culpas para o Governo anterior. A cândida declaração tem lugar no Parlamento, perante os deputados da comissão da economia, numa sessão sobre os transportes públicos pedida pelo PCP.

Nesse mesmo dia, o ministro anuncia que o Governo vai investir 20 milhões de euros nas obras de requalificação de algumas estações do Metropolitano de Lisboa, como Arroios e Areeiro, e vai ampliar a ligação: da estação do Rato ao Cais do Sodré.

Quando apresenta o Orçamento para 2017, em outubro, o vereador das finanças da CML anuncia a criação de um fundo de mobilidade urbana, de 15 milhões de euros, para financiar a gestão da rodoviária Carris em 2017, suportado por receitas do estacionamento, multas e do Imposto Único de Circulação.

Serão as receitas da EMEL a assegurar a passagem da Carris do Estado para a Câmara. Receitas que duplicaram, entretanto. É nesta altura, pela primeiríssima vez, que se mostram dúvidas sobre o Metro.

Menos de uma semana depois de o vereador das finanças de Lisboa ter afirmado que o futuro do Metropolitano de Lisboa ainda estava em discussão com o Governo, Fernando Medina borrega.

À mesa da TVI, no seu comentário semanal, o presidente da Câmara declara solene: «O Metro é um serviço que vai ficar na responsabilidade da administração central, não da Câmara de Lisboa, mas onde a câmara é obviamente um parceiro muito interessado e muito atento de tudo aquilo que se passa». Acrescenta que o investimento do Governo no Metro será de 45 milhões de euros. Note-se que, no espaço de uma semana, a propaganda dobra o anúncio dos milhões: de 20 para 45 milhões. Como se fossem amendoins. Não pode ser sério.

O Metro foi servido à socapa ao PCP e aos seus sindicatos nas negociações do Orçamento. É já sabido que o custo das horas extraordinárias vai disparar nas empresas públicas — aliás, vai duplicar.

O Metro foi servido ao PCP como bofe a gato, à mesa das negociações do Orçamento do Estado. O presidente já perdeu a Segunda Circular, os terrenos da Feira Popular, e agora acabou de ficar sem o seu amado Metro. Fernando Medina foi o grande sacrificado dos superiores interesses da ‘geringonça’.