A Europa está muito preocupada com Trump e já lhe escreveu

A presença americana na NATO, a questão da Ucrânia, o acordo comercial em negociação com os Estados Unidos, o combate às alterações climáticas e a luta contra o Daesh. Todos estes dossiês explosivos são uma incógnita com a vitória de Donald Trump. E todos eles são referidos numa carta enviada pelo presidente da Comissão Europeia,…

Na missiva que Juncker partilhou na sua conta de Twitter, o presidente da Comissão Europeia fala nos laços que unem Europa e Estados Unidos da América e diz que "hoje é mais importante do que nunca reforçar as relações transatlânticas".

A mensagem para o novo Presidente americano segue com um convite: Juncker chama Trump para uma cimeira especial entre a União Europeia e os Estados Unidos.

"Aproveitamos esta oportunidade para o convidar a visitar a Europa para uma cimeira UE/EUA, assim que lhe for possível", lê-se no documento que Juncker enviou a Donald Trump.

A ideia é que essa cimeira sirva para "mapear o rumo das nossas relações nos próximos quatro anos" e a rapidez deste convite mostra bem o grau de incerteza gerado pela eleição do candidato republicano. 

Na Europa, a forma como Trump se vai comportar no que toca à política externa é uma incógnita e, apesar do tom bem mais conciliador de Donald Trump no discurso de vitória, a verdade é que há preocupação sobre se o novo Presidente vai ou não respeitar os tratados assumidos pelos Estados Unidos com os seus aliados.

Não é por isso inocente que a carta que Juncker enviou esta manhã a Donald Trump comece precisamente com uma referência à "parceria estratégica" entre Europa e Estados Unidos "com raízes nos valores comuns da liberdade, dos direitos humanos, da democracia e da crença na economia de mercado".

Juncker recorda a Trump que "ao longo dos anos a União Europeia e os Estados Unidos trabalharam em conjunto para assegurar a paz e a prosperidade aos nossos cidadãos e às pessoas em geral em todo mundo". A referência é particularmente importante tendo em conta o discurso de Trump sobre a NATO durante a campanha eleitoral.

Enquanto candidato, Donald Trump disse por várias vezes que deveriam ser os europeus a pagar pela sua própria segurança, recusando a fatura elevada que a NATO representa para os americanos. Talvez o discurso mude agora que chegou à Casa Branca, mas a incógnita é suficientemente grande para que haja preocupação na União Europeia e a carta de Juncker reflete isso mesmo.

Outro dos pontos referidos na carta de Juncker é o combate às alterações climáticas. Trump está do lado dos que negam a existência de alterações climáticas como resultado da mão poluidora do Homem e pode pôr em causa os acordos alcançados nomeadamente na recente Cimeira de Paris. A situação é preocupante, porque os Estados Unidos são uma das nações mais poluentes do mundo, responsável por grande parte da emissão de gases para a atmosfera, e um parceiro essencial em qualquer estratégia global para o ambiente.

"Não devemos poupar esforços para que os laços que nos unem permaneçam fortes", escreve Juncker numa carta que é também assinada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e no qual se expressa também a preocupação europeia com a situação da Ucrânia. É que Trump recebeu o apoio de Vladimir Putin e a Europa teme que essa aproximação à Rússia prejudique a situação ucraniana.

"Só através de uma cooperação próxima será possível que a UE e os EUA continuem a fazer a diferença em relação a desafios sem precedentes como o Daesh, as ameaças à soberania e integridade territorial da Ucrânia, as alterações climáticas e as migrações", aponta Juncker.