1.Chegou a decisão: Donald J. Trump será o 45.º Presidente dos EUA. Foi uma noite longa, que ainda não terminou (ainda aguardamos o discurso de derrota de Hillary Clinton), emocionante – e que culminou, de facto, na surpresa de Donald.
Nós aqui escrevemos, ontem, em antecipação ao desfecho eleitoral que aqueles que julgavam que iriam celebrar uma grande noite da candidata democrata – deveriam ser mais prudentes, cautelosos e até cépticos. A surpresa foi ainda maior do que julgávamos mais provável: Donald Trump não só surpreendeu, como ganhou. E que vitória!
2.Donald Trump fez muito melhor do que os últimos candidatos republicanos; quebrou a grande coligação que levara Barack Obama à Presidência dos EUA; conquistou estados que todos afirmavam que matematicamente seriam democratas sem qualquer dúvida (como o Michigan e até a Pensilvânia, que tem sido sistematicamente democrata nos últimos largos anos!); foi o candidato com maior número de votos desde há muito tempo, inclusive nas primárias; obteve uma mobilização popular que patenteavam a energia, o dinamismo, a ambição de vitória ( “you’re gonna win big!) que os americanos precisavam de ouvir.
2.1.A parte final da campanha de Donald J. Trump, correu notavelmente, quer em termos, quer em termos substantivos.
Trump, todos os dias, enviava mensagens aos seus apoiantes, solicitando o seu apoio, convidando-os (em troca de apoios simbólicos, como 1 dólar, dois dólares, três dólares) a comparecer na Trump Tower para comemorar a vitória e ingressar na lista dos “winners” que figurará na Trump Plaza, o que cria uma ligação emocional que mobiliza para votar; as figuras de referência do GOP, as poucas que apoiavam Trump, enviaram mensagens pessoais a incitar ao voto – isto todos os dias e várias vezes ao dia.
E e, last but not the least, Donald Trump não se escondeu, tendo feito um esforço brutal para ir pessoalmente a todos os estados que poderiam ditar a sua vitória. E o esforço foi recompensado: Trump obteve vitórias que ninguém poderia prever. Mais: ao contrário de Hillary (que só concedeu entrevistas a meios de comunicação próximos do Partido Demcorata), Donald foi a todas – à FOX NEWS, à NBC, à ABC, à CNN, a Anderson Cooper, a Megyn Kelly…Aceitou falar com jornalistas que sabia que seriam demolidores para a sua pessoa e para a sua candidatura – e isso revela um grande apego à democracia e uma extraordinária coragem.
E, em sentido contrário, revelou fraqueza do lado da candidatura de Hillary. Ou seja: Donald J. Trump mostrou ser…presidenciável! Com planeamento, cumprindo escrupulosamente o horário dos seus compromissos eleitorais, o calendário definido por si e pela sua equipa, apelando ao contributo da sua família (com a frase que ficou: “Hillary tem Beyoncé e Jay-Z, eu tenho aqui as minhas estrelas: a minha família”), Trump mostrou – provou! – que sabe ter a “gravitas” de Presidente do mundo livre.
2.2.Por outro lado, em termos substantivos, ao contrário de Hillary Clinton (que não apresentou uma ideia, não teve um projecto mobilizador – colando-se, ostensivamente, à Barack Obama, que foi uma causa da sua derrota), Donald Trump tinha uma ideia que repetiu à exaustão: “ drain the swamp!”. Dir-me-ão que é populismo puro: pode ser, de facto.
Mas é uma frase que sintetizava a percepção popular maioritária de que Washington não resolve os seus problemas, que há problemas graves de funcionamento e de capacidade de decisão do “establishment”. Uma ideia de mudança – o que, aliás, aproxima Trump de Obama.
O Presidente Obama prometia uma mudança suave – “Change, we can believe!” ; Donald Trump, após Obama não ter conseguido a mudança à altura das expectativas dos seus apoiantes, propõe a reforma institucional, o desbloqueamento de impasses institucionais, a mudança das práticas formais político-decisórias – “ drain the swamp”, secar o pântano. Concertar Washington.
Este slogan é suficientemente mobilizador para fazer as pessoas sair de casa e votar em Trump. Para além de Trump dar uma ideia de novidade, de refrescamento, de revitalização do sistema – enquanto Hillary Clinton seria Obama 3. Ora, entre aquele candidato que já conhecemos e sabemos como é – e o outro que é uma novidade, que “eu conheço da televisão, que resolve os assuntos, que decide mais e fala menos, vamos experimentar o segundo”. Este facto permite, a nosso ver, explicar a vitória de Trump no Ohio ou na Pensilvânia.
2.2.1. Em segundo lugar, Donald J. Trump teve a ideia muito feliz de celebrar um contrato com os americanos – um conjunto de medidas que colocará em prática nos primeiros cem dias do seu mandato. Mostra ideias, convicções, eficiência e vontade de “meter mãos à obra” – ou seja, energia, dinamismo, capacidade de realização. Provavelmente, não irá realizar a maioria dessas medidas, sendo apenas intenções – mas, numa campanha eleitoral, as intenções contam.
2.2.2.Em terceiro lugar, Donald Trump mostrou que, afinal, a ditadura do politicamente correcto pode ser derrubada. A ideia de que a democracia só comporta certas ideias, só comporta o discurso padronizado, em que todos dizem o mesmo, em que todos são iguais, em que tudo se resume a uma troca de favores, em que todos temos de nos cingir à inevitabilidade – foi posta em causa ontem.
Afinal, é mesmo possível ser contra a Obamacare, tal como está desenhada – e ganhar eleições.
O discurso do politicamente correcto (como José António Saraiva demonstrou aqui no SOL) levou a que formasse um ideia de inevitabilidade da “europeunização” dos EUA. Ora, o pior que pode acontecer aos EUA é tornarem-se europeus – no dia em que tentarem converter os EUA na “europa da América do Norte”, a grande nação americana colapsa.
Donald J. Trump teve a coragem de dizer que não tem vergonha de ser americano: tem muito orgulho em pertencer ao país de Abraham Lincoln, de Ronald Reagan, que se formou pela liberdade, por causa da liberdade e movido pela liberdade.
3.Muitos políticos e responsáveis públicos nos EUA aderiram a uma moda de pedir desculpa ao mundo por serem americanos. Quase que pedem desculpa ao mundo pelos valores que formaram os EUA ao longo da história – a liberdade religiosa, a liberdade de empresa, a liberdade de iniciativa privada, a meritocracia, da originalidade, da inovação, da capacidade ilimitada do indivíduo e a capacidade limitada do Estado.
A ideia de que os direitos individuais não são conferidos pelo Estado, não são uma “bênção “ do poder político – antes, são direitos inalienáveis do indivíduo que funcionam, a um tempo, como fundamento e como limite ao poder do Estado. Não é o indivíduo que serve o Estado – é o Estado que serve o indivíduo. E porque serve o indivíduo, serve o interesse público. O interesse da comunidade.
Não há que pedir desculpa, nem sentir vergonha por se ser americano – os EUA devem actuar no plano internacional sem complexos, arrependimentos e sem embaraços pela sua excepcionalidade. E pelo seu excepcionalismo.
4.E agora Donald J. Trump é o Presidente do mundo livre. Acabou-se a campanha: agora, é tempo de os estados europeus, e o mundo, se revelarem disponíveis para estreitar as relações com os EUA, colaborando com a nova administração. Sem complexos de superioridade moral ou outro qualquer.
No que respeita aos EUA, impõe-se acabar, desde já, com a retórica de campanha inflamada, divisionista, que instila à separação, à criação de “duas américas”: ora, os EUA são demasiado importantes, a nação americana é demasiado forte – para que os interesses pessoais, as clivagens pessoais se sobreponham à realidade histórica, cultural, económica, política, democrática, militar, de segurança e de liberdade que são os EUA.
Barack Obama, Donald J. Trump, Hillary Clinton, Mike Pence, Tim Kaine ou outro qualquer, passarão. Estiveram e estarão transitoriamente na liderança do mundo livre – mas os EUA permanecerão por muitos e muitos mais séculos, inscrevendo a sua singularidade, os seus valores na arquitectura mundial.
As pessoas passam – mas os valores do EUA têm que permanecer. As pessoas passam – os EUA, como nação nascida por causa da liberdade e da democracia, têm que permanecer, acompanhando o progresso da humanidade.
5.Por conseguinte, é louvável o apego à democracia, aos valores democráticos, à Constituição e aos processos políticos, revelados pelo Presidente Barack Obama, Donald J. Trump e Hillary Clinton (uma Senadora a quem os EUA muito devem – e que no futuro continuará a ser útil para a nação americana).
Mostraram saber que, independentemente das suas divergências pessoais e acrimónia, há um valor superior a defender: a união da nação da americana e a viabilidade do projecto político-constitucional dos EUA. Também Thomas Jefferson, James Madison, John Quincy Adams ou Andrew Jackson tiveram os seus conflitos pessoais, as suas “guerras” – contudo, no momento certo, perceberam que o nosso dever histórico prevalece sobre a nossa circunstância pessoal momentânea. O homem – e o homem público – também é a sua inscrição na história da sua nação.
6.Hoje, mais do que nunca, os EUA não podem esquecer as palavras do Presidente Barack Obama, proferidas logo, em 2004, ainda como jovem político que despontava em Chicago: “ There is no liberal America, there is no conservative america – there is the United States of America. There is no black America, and white America, and a latino America – there is the United States of America. The pundits like to slice and dice our country into red states and blue states – red states for republicans, blue states for democrats. I got some news for them: (…) we are the United States of America. We are one people. All of us pledging allegiance to the Stars and Stripes. All of us defending the… UNITED States of America”.
7.Pois bem, hoje, a partir de agora, não haverá uma América de Hillary e uma América de Donald J. Trump – só há uma América.
Só há um Povo – o Povo americano. We, the People. O sucesso do Presidente Donald Trump não será apenas o sucesso de Trump – será o sucesso de todos os americanos.
Será o sucesso dos americanos brancos, negros, latinos, cristãos, muçulmanos, judeus, asiáticos – de todos. Dos Estados Unidos da América.
Unidos. E o sucesso dos Estados Unidos, será o sucesso do mundo. Porque estamos…unidos. E United, We Stand. And United, We Will Stand.
8.Em jeito de conclusão, não podemos deixar de dizer que o Presidente Donald tem um discurso de ambição, de vitória, de energia, de crença nas capacidades do país e dos seus cidadãos, de que não ninguém tem de se resignar ao “poucochinho”.
Um discurso de vitória – vitória colectiva, vitória pessoal. Donald J. Trump, desejamos-lhe o maior sucesso. É tempo de “win big”!
9.Mr. President Donald, não peça desculpa por ser americano! Não ser peça desculpa por acreditar na liberdade empresarial, no mercado livre, na capacidade transformadora dos indivíduos.
10.Let’s Make America GREATER once again! Esperemos que esteja à altura do nosso desejo (de todos nós) de que seja um “ huge and, quiet frankly, fantastic” Presidente! Win big- unbelievably big! Um discurso de vitória nunca é um discurso pessimista…
P. S- O discurso dos jornais de referência está a aproximar-se perigosamente dos comentários anónimos dos blogues. A Visão publicou um texto da sua directora com o título: “ Presidente Trump? Merda, Merda, Merda”. Para quê? Pode dizer o mesmo sem recorrer a linguagem ofensiva – é que, hoje em dia, “merda” parece que é uma palavra intelectual. Da nossa intelectualidade. Imagine-se o que seria se o autor destas linhas escrevesse “ Hollande? Merda, Merda, Merda” ou então que alguém imaginário escrevesse “Extrema- esquerda a mandar no Governo de um país democrático, ocidental e atlantista? Merda, Merda, Merda”. Ui, já tínhamos processos em todo o lado (na ERC, nos tribunais…) e a esta altura esse alguém imaginário já estaria exilado…