A vitória de Donald Trump nas eleições americanas provocou uma reação imediata nos mercados. As bolsas europeias chegaram a cair 5%; na Ásia, as quedas foram nesse patamar; o petróleo chegou a descer mais de 4% nos EUA; e o dólar chegou a afundar. No entanto, a pressão começou a aliviar durante o dia, dando lugar ao benefício da dúvida, como garantem os analistas contactados pelo i.
“O mercado mostra sinais de resiliência perante a vitória do candidato republicano. O discurso reconciliador de Trump garantiu um volte-face veloz, os índices inverteram as quedas, os ativos de refúgio entraram em queda e certamente que, dependendo dos vencimentos de opções, vários investidores nem tiveram tempo de ativar as coberturas das quedas, pois a recuperação foi total num espaço de poucas horas”, revelou Eduardo Martins, gestor da corretora XTB.
O responsável lembrou ainda que “o dólar caiu fortemente, mas com o discurso também inverteu e ganhou força. O mercado asiático fechou negativo, mas foi após o discurso de Trump que verificámos uma inversão nas principais tendências”, acrescentou.
“Trump pode ser acusado de muita coisa, mas é um animal político que se irá adaptar à nova realidade. Uma realidade é o candidato em campanha, outra realidade é Trump, presidente dos EUA. Considero que Donald Trump terá um forte mecanismo por trás que poderá surpreender pela positiva quando todos esperam o pior”, diz Eduardo Martins.
A opinião é partilhada pelo analista Steven Santos, do Banco Big que, ainda assim, admite que “os mercados acionistas reagiram menos negativamente do que se esperava, tendo iniciado uma recuperação relativamente rápida”.
Sobe-e-desce Na Europa, as bolsas mais penalizadas foram a espanhola, devido à forte exposição à América Latina, e a portuguesa. No PSI 20 – fechou a perder 1,47% –, a ação que mais cai é a EDP Renováveis, visto que os EUA são um dos principais mercados da empresa e Trump pretende apostar na extração petrolífera, em detrimento das energias renováveis.
A subida dos juros das obrigações do Tesouro a 10 anos reflete-se também de forma adversa nas ações, sobretudo na banca.
Já no IBEX 35, a queda mais expressiva é a do BBVA, uma vez que um dos seus mercados mais importantes é o México, “país contra o qual Donald Trump quer aplicar medidas duras em termos de imigração e de relações comerciais”, lembra o analista.
Petróleo e dólar recuperam O resultado das eleições levou, numa primeira reação, o dólar a registar fortes perdas contra as congéneres, chegando a perder mais de 2% face ao euro. No entanto, o discurso de aposta no crescimento da economia fortaleceu a moeda americana contra a maioria dos pares. O euro acabou, assim, o dia a perder 0,70% para 1,0949 dólares.
Já o petróleo chegou a perder mais de 4% em Nova Iorque e mais de 3% em Londres no início do dia, mas ao longo da tarde foi aliviando, acabando mesmo por subir. O Brent, negociado em Londres e referência para Portugal, subiu 1,43% para 46,70 dólares.
Steven Santos lembra, no entanto, que “Trump defende que os EUA devem concentrar a sua estratégia energética na produção de combustíveis fósseis, o que poderá levar à pressão descendente sobre o crude, com a perspetiva de haver maior produção no país”.
Corrida ao ouro O ouro esteve a cair a maior parte da sessão, tendo aliviado, subindo 0,59% para 1283,25 dólares por onça. Os resultados das eleições presidenciais levaram os investidores a uma grande corrida ao ouro, uma das estratégias de investimento mais consensuais por parte dos analistas no caso de uma vitória de Donald Trump, já que é considerado um investimento de refúgio.
Aliás, foi um dos dias mais ativos de sempre, superado apenas pela sessão que se seguiu ao Brexit e pelo registado a 15 de abril de 2013, quando o ouro teve uma das maiores quedas das últimas três décadas.