Algo completamente diferente: sou lisboeta, mas tirei o MBA no Porto. E no Porto, como todos os portuenses sabem, para se deslocar de automóvel do ponto A ao ponto B, é geralmente necessário passar pela Via de Cintura Interna, a VCI, que tem trânsito intenso a qualquer hora do dia ou da noite, mesmo ao fim-de-semana.
O meu trajeto para ir para a Escola onde fiz o MBA implicava vir de norte, apanhar a VCI, e depois sair desta no nó de Francos. Passei longas horas no engarrafamento quase permanente do nó de Francos. E tive um colega, portuense, que uma vez disse. “O presidente de câmara que consiga resolver o problema do nó de Francos tem a reeleição assegurada.” E houve um presidente de câmara que fez isso mesmo: Rui Rio.
Rio não teve medo de afrontar o imenso poder de Pinto da Costa, que lhe atirou uma das suas tiradas sarcásticas: “O único rio que nós tememos é o Douro”, e que apoiou publicamente o candidato do PS à câmara, Francisco Assis (ainda hoje vêm os jogos do FCP no Dragão sentados lado a lado). Mas Rui Rio foi sempre reeleito até ser legalmente impossível uma nova recandidatura.
Rio é um pragmático, dotado de bom senso. Faz obra, mas tem sempre o orçamento controlado, para não existirem desvios. Com este rigor, com pouco é capaz de fazer muito. É corajoso, enfrentando os problemas de frente. Tem sensibilidade social, e tem trabalho realizado nesse campo, mas não deixa de responsabilizar os beneficiários pelas benfeitorias feitas. É um bom orador, e um pensador inteligente sobre o nosso sistema político-constitucional, bem como sobre questões internacionais.
Como presidente da Câmara do Porto, geria em pessoal o equivalente a um ministério de média dimensão. E foi reduzindo progressivamente o número de funcionários da câmara para reduzir custos, mas sempre a bem, mantendo a paz social. Tem uma obsessão por cortar despesas, mesmo admitindo que é muito difícil. Em suma, tem um imenso capital político.
Dá hoje uma entrevista ao Diário de Notícias onde admite ser possível que dispute a liderança do PSD contra Passos Coelho. A geringonça que se acautele, pois o quase virginal Rui Rio pode tornar-se um adversário muito mais perigoso do que o desgastado, e por vezes algo desorientado, Passos Coelho.