Figura da Semana: O homem mais odiado do planeta e arredores

Eram muito poucos os que acreditavam que algum dia uma figura com um falso capachinho pudesse chegar à presidência americana. Mas aconteceu e o homem que construiu um império imobiliário quer fazer o mesmo com o país.

Xenófobo, segundo o Priberam – utilizando uma ferramenta que os mais novos adoram –, significa «aversão aos estrangeiros, ao que vem do estrangeiro ou ao que é estranho ou menos comum». Esta é apenas uma das acusações que recaem no homem que vai ser o próximo inquilino da Casa Branca, mas, olhando para a verdadeira definição da palavra, fica-se um pouco confuso. Vejamos, Donald Trump já vai no terceiro casamento e só uma das mulheres nasceu nos Estados Unidos. A primeira, Ivana Zelníckova, tinha nacionalidade checa e a atual também nasceu na antiga República da Checoslováquia, mas na parte eslovena. Como se poderá facilmente constatar, o homem de xenófobo tem muito, e consta que só não casou com mais nacionalidades porque não conseguiu.

Brincadeiras à parte, Trump tem muito de palhaço para a cultura europeia. Diz umas bocarras sobre vários assuntos que o eleitorado mais conservador quer ouvir – onde se incluem os abomináveis homens e mulheres do Ku Klux Klan –, além de falar sobre muitas questões que, aparentemente, não domina. Ora, como é sabido, todos os presidentes americanos, à semelhança dos outros, rodeiam-se de pessoas que preenchem as suas lacunas e é depois de ouvir várias versões que os responsáveis máximos decidem. Sempre foi e será assim. Pode argumentar-se que o homem que nasceu a 14 de junho de 1946 é uma besta e que construiu, destruiu e reconstruiu um império só por sorte, nabice e sorte outra vez. Eu não gostava de viver num país liderado por ele, mas daí a pensar que a desgraça vai ser o nome das notícias sobre os Estados Unidos da América vai toda a distância do mundo…

Trump construiu um império imobiliário, tornou-
-se uma figura de reality show, onde também ganhou muito dinheiro e popularidade, entrou em várias séries como Sexo e a Cidade ou os Simpsons, e não é, obviamente, um desconhecido. Tem um humor longe do palhaço Beppe Grillo, de Itália, que também entrou na política e foi tão bem recebido pela esquerda bem-pensante.

O mundo está diferente e é muito difícil para muita gente perceber fenómenos como o Brexit ou a eleição de Trump. Agora que este artista da franja cheia de laca conseguiu ser uma das maiores surpresas da história da política mundial é que não há dúvida. Esperemos pelos próximos episódios deste reality show.

 

P. S. A Rússia tem um presidente que já foi primeiro-ministro para continuar como presidente, e voltou a sê-lo. O mundo preocupou-se com um ditador encapotado de um país que nunca teve tradição democrática? Não me parece.
A América, de facto, é muito mais fascinante.