O daesh, ou Estado Islâmico, está em retirada. No Iraque, parece ser uma questão de tempo até serem derrotados em Mossul, e a partir dai serem definitivamente expulsos desse país. Na Síria, também estão a recuar, embora aí a sua situação seja mais confortável, pois defrontam dois inimigos que não estão unidos entre si: as forças do presidente Assad, apoiadas pela Rússia, e grupos sírios pró-ocidentais, suportados pelos Estados Unidos. Se estas duas forças, que lutam separadamente, fossem aliadas, o daesh poderia já ter sido expulso da Síria.
O que surpreendeu o mundo em 2014 e 2015 foi a rapidez do avanço do daesh. Isso explica-se por dois fatores: por muitos serem combatentes experimentados, que já tinham lutado no Iraque e/ou no Afeganistão; o segundo fator foi eles terem aprendido bem as lições de Rommel.
Erwin Rommel, general e depois marechal alemão durante a II Guerra Mundial, que foi levado a suicidar-se em 1944 por ter participado na conspiração para matar Hitler, revolucionou a forma como se faz a guerra usando blindados. Em 1940, comandou uma divisão blindada na invasão de França. Nessa altura, e sobretudo entre os franceses, os blindados eram olhados como armas de pouca importância, uma espécie de artilharia móvel para apoiar a infantaria. Os alemães provaram que não era assim, revolucionando a arte da guerra com a sua blitzkrieg, ou guerra-relâmpago. E, entre todos os generais revolucionários alemães, nenhum se destacou mais do que Rommel.
Em 1940, na invasão de França, Rommel deu ordens explícitas à divisão que comandava: uma vez ultrapassada qualquer resistência, avancem o mais que puderem, o mais rapidamente que puderem. Os tanques avançaram, até que encontraram uma barragem intacta. Rommel, muito astuciosamente, fez os blindados passarem por cima do paredão da barragem, e a partir daí continuarem a avançar. A certa altura, entre os tanques e o quartel-general da divisão, havia uma distância de 200 quilómetros. E os blindados de Rommel tiveram de parar, não porque tivessem encontrado resistência militar por parte dos aliados, mas por falta de combustível. Devido a isso, o clima azedou entre Rommel e o seu chefe de estado maior. Rommel acusou o seu subordinado de incompetência por não ter assegurado o abastecimento de combustível aos blindados, e este retorquiu que aquela era a “divisão fantasma”, porque ninguém sabia onde estavam as tropas.
Eventualmente, os blindados acabaram por chegar ao mar, completando o cerco a franceses e britânicos. Em 1941, Rommel foi destacado para África com duas divisões, que foram batizadas de Afrikacorps. Foi em África que Rommel mais se notabilizou, usando as táticas de avanço rápido e de dispor os blindados a avançar em linha (e não em fila indiana), como se fossem navios de guerra numa batalha naval. Expulso de África em 1943 por forças superiores americanas e britânicas, foi encarregue de construir uma linha de defesa contra uma possível invasão aliada do continente europeu, linha essa que ficou conhecida por “muralha do Atlântico”, e da qual ainda hoje encontramos ruínas, pelo menos em França.
A invasão aliada acabou por ocorrer a 6 de junho de 1944, pouco tempo depois Rommel foi ferido por um avião aliado e, finalmente, foi forçado a suicidar-se.
O avanço do daesh foi tão rápido porque eles conheciam as táticas de Rommel: o avanço rápido após eliminada qualquer resistência, e o uso correto de blindados no deserto. Agora, entrincheirados em cidades, será muito difícil, mas não impossível, retirá-los de lá. Os sobreviventes do daesh podem sempre fazer passar-se por refugiados para planear e executar ataques terroristas na Europa ou nos Estados Unidos da América. Mas nós somos democracias sólidas, estamos do lado da civilização, e eventualmente acabaremos por derrotar aqueles canalhas.