Na madrugada de ontem, depois de mais de dez horas de interrogatório judicial, o veredicto: os 17 arguidos do grupo de extrema-direita ‘Hammerskins’ detidos no início da semana pela PJ saíram em liberdade, apesar de sujeitos a apresentações periódicas. Essas apresentações são de caráter diário, semanal e mensal, consoante os arguidos e os crimes por que estão indiciados. A 1.ª Secção de Instrução Criminal da Instância Central de Lisboa justifica a aplicação destas medidas de coação com a existência de «perigo de continuação da atividade criminosa».
Os arguidos estão indiciados pelos crimes de discriminação racial, religiosa ou sexual, crime de ofensa à integridade física qualificada, crime de homicídio qualificado na forma tentada, crime de dano, posse de arma proibida, tráfico de estupefacientes e roubo. Durante a investigação, as autoridades apreenderam uma caçadeira e outras armas de fogo, munições, facas, catanas, gás pimenta, bastões, tacos de basebol. Além disso, foram encontradas bandeiras, emblemas, cachecóis e casacos com o símbolo dos «Hammerskins», classificado pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) como sendo «o mais violento e organizado grupo de extrema-direita».
Investigação
A Polícia Judiciária e o Ministério Público revelaram na terça-feira a detenção de 20 homens suspeitos de vários crimes incluindo discriminação racial, agressão e tentativa de homicídio.
Segundo um comunicado enviado pela PGDL, os suspeitos «atuam no seio de uma organização fortemente hierarquizada, de âmbito internacional, os skinheads neonazis liderados pela ‘Hammerskin Nation’».
A investigação debruça-se sobre episódios violentos que ocorreram entre os dias 3 de novembro de 2013 e 20 de setembro de 2015, período durante o qual «os suspeitos, motivados pela referida discriminação, terão agredido vários indivíduos e tentado causar a morte de um outro, bem como subtraído com violência e/ou danificado bens pertencentes a outros indivíduos», refere ainda a PGDL.
Já na quarta-feira, três dos detidos tinham saído em liberdade depois de terem sido ouvidos em tribunal. Eram suspeitos do crime de posse de arma proibida e ficaram obrigados a apresentações quinzenais às autoridades. Os outros 17 permaneceram detidos nas instalações da Polícia Judiciária até quinta-feira para serem ouvidos.
Episódios violentos
Um dos casos investigados pela polícia neste inquérito está relacionado com a agressão feita a um sindicalista da Câmara de Lisboa, militante do PCP, à saída de um comício da CDU. A agressão, que aconteceu em setembro do ano passado, obrigou à hospitalização do sindicalista. Nesse incidente outras três pessoas ficaram feridas, mas nenhuma com gravidade.
Os ‘skinheads’ envolvidos no episódio foram identificados porque, durante a agressão, um deles deixou cair a carteira com a identificação. Testemunhas no local contam que o grupo vestia camisolas com a mensagem «Refugees not welcome» («Refugiados não são bem-vindos», em português) e que passavam na rua a ameaçar quem passava. Quando alguém gritou «Fascistas!» deram início às agressões que atingiram ainda um idoso que passava no local com um autocolante da CDU ao peito.
Entre os agressores estaria um guarda prisional, noticiou esta semana o Diário de Notícias. O homem, de 34 aos, presta serviço no estabelecimento da Carregueira.
Apelo à denúncia
Durante a apresentação aos jornalistas dos elementos recolhidos durante a investigação, o diretor da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) da PJ, Luís Neves, deu mais alguns pormenores sobre o grupo: têm idades entre os 20 e os 40 anos e entre eles há desempregados, estudantes e pessoas ligadas à segurança privada.
Do grupo agora detido faz parte um elemento que foi condenado pela morte de Alcindo Monteiro – o jovem de origem cabo-verdiana assassinado em 1995, no Bairro Alto.
O diretor desta unidade da Polícia Judiciária explicou que esta não foi uma investigação sobre ideologias, mas sim sobre os crimes praticados por este grupo. Aliás, Luís Neves acredita que o número de vítimas é superior ao apurado, mas que, por medo, algumas vítimas não apresentam queixas às autoridades. O diretor da UNCT aproveitou, por isso, para apelar a todas as vítimas deste tipo de crime para que participem as agressões às autoridades.