O soalheiro Algarve, mesmo já com novembro a caminhar a alta velocidade, terá neste domingo o privilégio de acolher a seleção campeã europeia em título: a portuguesa, pois claro. A entrada no apuramento para o Mundial 2018 não foi a mais brilhante – derrota na Suíça, no primeiro jogo ‘a sério’ após o Europeu de França –, mas entretanto a normalidade foi reposta com duas goleadas sobre os pobres Andorra e Ilhas Faroé. Nesta viagem, o passageiro que se segue é também ele agradável para os ouvidos lusos: a Letónia, um dos três países do Báltico – região com que Portugal se dá tão, tão bem.
Esta relação feliz da Seleção Nacional com os letões já vem de longe: começou há precisamente 22 anos, jogava-se então o apuramento para o Euro 96. No segundo jogo da fase de grupos, Portugal foi à ex-república soviética vencer por 3-1, com dois golos de João Vieira Pinto, então ainda a estrela maior do Benfica, e outro de Luís Figo, na sua última época ao serviço do Sporting. Na segunda volta, outro jogo que havia de ficar na história, numa vitória por 3-2 – suada, depois de estar a ganhar por 3-0 aos 21 minutos –, com o primeiro e único golo de Secretário pela Seleção e uma despedida: Paulo Futre. Lançado ao intervalo, para o lugar de Paulo Sousa, o canhoto que maravilhou uma geração fez ali, aos 29 anos, o último jogo com as cores nacionais, numa altura em que já caminhava a passos largos para o final da carreira – fustigada por muitas e graves lesões.
Episódio insólito
Mais confrontos com a Letónia, só uma década depois. Na qualificação para o Mundial 2006, mais dois encontros – e outras duas vitórias, desta feita mais tranquilas: 2-0 fora e 3-0 em casa. No duelo em Riga, resolvido pelo génio de um ainda imberbe Cristiano Ronaldo (um golo e uma assistência para Pauleta marcar), um episódio insólito teve lugar: ainda com o marcador em branco, uma adepta letã irrompeu pelo relvado. A invasão de campo não é assim tão fora do comum, mas esta foi… por uma razão: Liene Baldure, assim se chamava, a menina, estava… em topless – envergava apenas umas botas brancas, umas meias vermelhas até aos joelhos e uns calções (muito, muito curtos) da mesma cor. Mais nada. Ainda se conseguiu agarrar a Nuno Valente, perante o olhar incrédulo da comitiva nacional, antes de ser agarrada pelos assistentes de recinto desportivo – o nome pomposo para stewards.
A última partida entre estas duas seleções viria a disputar-se a 12 de outubro de 2005, no Estádio do Dragão, e também fica na história do futebol português. Foi neste encontro que Pauleta igualou, primeiro, e superou depois o número de golos de Eusébio ao serviço da Seleção nacional: 41 – à data, era recorde. Entretanto, Cristiano Ronaldo já ultrapassou Pauleta, sendo com 66 golos o artilheiro máximo de Portugal. Realce ainda para o 3-0 deste encontro, apontado por Hugo Viana, que nesse dia conseguiu o seu primeiro e único golo com a camisola da seleção A portuguesa.
Mas não é só Portugal que tem razões para sorrir quando se fala da Letónia: o contrário também acontece. É que foi precisamente em território português que os letões conseguiram o maior feito da sua história: a presença numa grande competição de seleções. Em 2004, a Letónia tornou-se no primeiro país báltico a participar num Campeonato da Europa, defrontando República Checa, Alemanha e Holanda. Perderam 2-1 com os checos (golo de Verpakovskis, figura maior do futebol daquele país), mas dois dias depois viriam a empatar 0-0 com os alemães, então vice-campeões mundiais. Um empate com tão delicioso sabor, que nem a derrota com a Laranja a fechar (0-3) amargou.