Os doentes com várias doenças crónicas vão passar a ter um plano de cuidados para integrar os diferentes tipos de acompanhamento, por exemplo nos cuidados primários e nas consultas hospitalares. Constantino Sakellarides explica que esta é outra novidade das regras de contratualização para o próximo ano. Estima-se que 10% dos utilizadores dos cuidados de saúde tenham um quadro de multimorbilidade – quando estão diagnosticadas duas ou mais doenças crónicas – e estes doentes consomem 80% dos recursos de saúde. O objetivo é melhorar a forma como as pessoas navegam no sistema e são tratadas e, em simultâneo, tornar o SNS mais eficiente, admite o responsável.
Sakellarides adianta que o novo modelo de abordagem vai arrancar com 30 experiências-piloto e contará com médicos voluntários, cada um responsável por 50 doentes. Os planos terão de envolver pelo menos dois níveis de cuidados, ou seja, garantir que quando um doente é visto num ambiente hospitalar, o médico tem informação sobre o percurso desse mesmo doente nos cuidados continuados ou no centro de saúde.
Sakellarides diz que o modelo que Portugal vai implementar vai ao encontro de normas publicadas pela primeira vez no Reino Unido em setembro, com uma preocupação crescente de tratar pessoas, e não doenças individualmente.
Em Inglaterra, a discussão começou em 2012. O NICE – organismo público responsável por orientações clínicas – recomendou agora planos individuais para todas as pessoas com mais do que duas doenças crónicas, em particular idosos que façam regularmente 15 medicamentos diferentes. Uma das ideias do regulador é que, em alguns casos, os tratamentos de algumas patologias poderão ser interrompidos, pois não trazem benefícios face à situação geral dos doentes.
O organismo publicou mesmo uma base de dados que permite aos médicos terem uma noção dos prós e contras da medicação antes de a receitarem: por exemplo, por cada 595 doentes que tomam estatinas como prevenção de doença cardiovascular, evita-se apenas uma morte. Uma medicina de racionalização ou economicista? Em 2014, uma votação feita numa conferência organizada pela revista médica “Pulse” concluiu que a maioria dos médicos de família presentes consideravam que os doentes mais velhos são sobremedicados. Por cá, o debate ainda não se fez sentir.