Que já não se veem filmes como antigamente é uma verdade tão gasta que deixou de fazer sentido repetir, sobretudo neste mundo pós-Netflix a que viemos dar, mas também verdade que não era para todos e que está mais próxima de ser do que nunca. Isto porque, depois de Espanha e do México, chegou a Portugal o Filmin, uma plataforma de vídeo on demand dedicada ao cinema independente e de autor com cerca de 500 títulos disponíveis, número que se prevê que venha a dobrar nos próximos meses.
O que isto significa em termos práticos poderá parecer demasiado bom para ser verdade, mas é, e significa que passámos a poder ver em streaming e a qualquer momento títulos tão recentes como “Cartas da Guerra”, o filme de Ivo M. Ferreira a partir da correspondência de guerra de António Lobo Antunes, “Deste Viver Aqui Neste Papel Descripto”, ou mais ainda, como o último documentário de Werner Herzog, “Eis o Admirável Mundo em Rede”, que ficará disponível já este sábado, em antestreia.
Isto e clássicos, vários que prometem crescer para muitos, como uma das coleções que os programadores do Filmin colocaram em destaque para o lançamento, dedicada aos primeiros filmes de Luchino Visconti, a que se juntam outras 12 coleções: Clássicos, Cinema Dentro do Cinema, Loucura e Poder, Books & Films, Western Moderno, Black Mirrors, LGBTI, Film-in-Music, O Fim da Infância, mais uma dedicada aos melhores filmes deste século, inspirada nas listas da BBC e da “Les Inrocks”, que inclui por exemplo a trilogia das “Mil e Uma Noites”, de Miguel Gomes, “Adeus à Linguagem”, de Jean-Luc Godard, “O Acto de Matar”, de Joshua Oppenheimer, “O Que Está Por Vir”, de Mia Hansen-Love, ou “O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores”, de Apichatpong Weerasethakul. E ainda duas a que se prometem juntar muitas outras inspiradas nos filmes que estreiam em sala todas as semanas: Isabelle Huppert, a propósito de “Elle”, de Paul Verhoeven, que estreia hoje, e Jim Jarmusch, que na semana passada esteve em Portugal a apresentar os seus dois últimos filmes, “Paterson” e “Gimme Danger”, no Lisbon & Estoril Film Festival.
“A particularidade do Filmin é sobretudo ter muitos conteúdos que não se encontram noutros sítios”, explica Stefano Savio, diretor e programador desta nova plataforma para o cinema independente em Portugal, sublinhando a vontade de que a programação siga “o que se passa em Portugal e internacionalmente” ao mesmo tempo que tenta oferecer ao espectador um percurso personalizado. “Queremos criar uma pequena comunidade de pessoas que gostem de cinema em Portugal, um caso emblemático de muitos distribuidores de cinema independente, que dificilmente tem espaço ou visibilidade nos canais tradicionais.”
Com um motor de busca que permite fazer pesquisas por título, realizador, país, coleções, prémios ou presença em festivais e ainda por géneros — estão classificados em 30 — ou por tags, o Filmin está para já disponível através de uma subscrição de 6,95 euros mensais para o acesso ao catálogo completo sem período de fidelização, ou o aluguer de filmes à unidade por um período de três dias, com valores entre 1,95 e 3,95 euros.
O Filmin chega agora a Portugal mas tem já mais de dez anos em Espanha, onde nasceu ainda antes de a Netflix se ter transformado de serviço de entrega de DVD ao domicílio em plataforma digital e com um catálogo que conta atualmente com 11 mil títulos. O objetivo também aqui é que vá crescendo sempre, num sistema de colaborações e de parcerias com uma lista de distribuidoras e festivais que já vai longa e que inclui a Alambique Filmes, a Midas Filmes, a Il Sorpasso, associação responsável pelo Filmin, a Portugal Film, O Som e a Fúria, a Rosa Filmes, a Fado Filmes e a Filmes do Tejo II, o Queer Lisboa, o Monstra e o 8 1⁄2 Festa do Cinema Italiano, entre os outros. “Este é fundamentalmente um projeto de colaboração, de criação de uma plataforma comum entre os operadores portugueses.”