Dívida: alerta para os juros em vésperas de novo leilão de obrigações

Evolução do país a curto e médio prazo está no radar internacional de um mercado volátil, que parece antever o fim da época de juros baixos 

A evolução das obrigações soberanas de Portugal no curto e médio prazo está no centro das atenções internacionais. Depois de, na quarta-feira, a taxa de juro implícita nas obrigações a dez anos ter subido 18,0 pontos–base, a maior subida desde 24 de junho, e ter fechado com o valor mais elevado desde 12 de fevereiro – 3,673% –, o Commerzbank assinalou ontem que os títulos estão num nível alarmante. 

“Além das yields [as obrigações soberanas de Portugal] estarem num elevado nível alarmante, o desempenho superior face às obrigações soberanas de Itália chegou ao fim”, refere o Commerzbank numa nota enviada aos clientes esta quinta-feira, citada pelo “Negócios”.

Condições de mercado O banco germânico espera que os investidores se posicionem antes do próximo leilão de obrigações. No início da semana, a presidente da Agência para a Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Cristina Casalinho, revelou que está previsto “mais um leilão até ao final do ano e vamos executá-lo se as condições de mercado permitirem”. 

Mas, neste momento, o mercado está volátil. Os investidores anteveem o fim dos juros baixos com base nas políticas do presidente eleito dos EUA e receiam as políticas comerciais e protecionistas de Donald Trump. No mesmo dia em que os juros portugueses atingiram máximos desde fevereiro, a taxa de juro a 10 anos de Espanha avançou 8,5 pontos para 1,544%, a de Itália avançou 7,0 pontos para 2,033% e, em França, a subida foi de 1,4 pontos para 0,741%. 

Emissão Ainda assim, o Commerzbank prevê que a emissão seja confirmada hoje e concretizada a 23 de novembro, quarta-feira. A 26 de outubro, o IGCP colocou mil milhões de euros de obrigações a cinco anos com juros mais baixos que na anterior emissão e espera-se que o mesmo montante seja leiloado na próxima semana, em Obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2022 e julho de 2026.

O desempenho negativo da dívida portuguesa poderá estar relacionado com este leilão, uma vez que é habitual os investidores venderem títulos no mercado secundário para depois participarem no mercado primário. “Se for este o caso, será pouco provável um alívio nos juros da dívida portuguesa até o leilão se concretizar”, refere a nota do Commerzbank.

A instituição financeira recomenda cautela com a dívida portuguesa no médio prazo.

De lembrar ainda que a DBRS, a única agência de rating que mantém a dívida portuguesa acima do nível de lixo, colocou o valor dos juros entre 3,5% e os 4% como limiar de preocupação para a atribuição do rating. 

A agência sediada em Toronto sustenta que os juros nestes montantes não permitem ao Estado substituir dívida antiga por dívida nova e, assim, poupar nos juros anuais a pagar. 

A 21 de outubro, a DBRS manteve “a perspetiva estável [para o rating]”, mas sublinhou que existem “desafios orçamentais significativos”. 

Luz Verde Estes desafios orçamentais estiveram também no discurso da Comissão Europeia quando, a meio desta semana, deu luz verde à proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017). 

Bruxelas considera que o esboço do OE2017 “está em risco de incumprimento com os requisitos para 2017 considerados pelo PEC [Pacto de Estabilidade e Crescimento]”, mas afirma que os “riscos parecem contidos” desde que “as medidas orçamentais necessárias sejam cumpridas”.