Às 16.59 horas de sexta-feira 18 de novembro de 2016, as taxas de juro da dívida portuguesa a dez anos estão a 3,85%. Se tivermos em conta que dia 24 de outubro estavam a 3,15%, vemos que em três semanas e meia subiram 0,70%. Em termos relativos subiram 22%, o que é obra.
Vivemos, pois, no admirável mundo novo da era Trump, na qual os gastos do governo dos Estados Unidos provocam inflação, e para isso é necessário subir as taxas de juro. Há, contudo, uma boa notícia para nós: empurrado pela possibilidade de o banco central americano subir as suas taxas já em dezembro, o dólar americano não para de se apreciar, embaratecendo as nossas exportações em dólares e encarecendo as nossas importações (se não para tudo, pelo menos para alguns bens e serviços). Dito de outra forma: por via cambial, Trump torna-nos mais competitivos.
Há outra explicação, um pouco mais sinistra, mas possivelmente real, para o disparar das nossas taxas: é que, provavelmente, para a semana o Estado português vai endividar-se a cinco e a dez anos. Como existe essa possibilidade, os grandes investidores estão a vender dívida portuguesa, fazendo assim subir as taxas de juro (nas obrigações de taxa fixa, se o preço do título desce a respetiva taxa de juro sobe, e vice-versa), para quando comprarem essa nova dívida portuguesa conseguirem melhores taxas de juro.
Estamos bem ou estamos mal? Estamos assim-assim. Por um lado, as taxas de juro, limitando a nossa análise ao tempo da geringonça, já estiveram a 4,11% dia 11 de fevereiro. Ainda não estamos lá, embora não falte muito. Por outro lado, se realmente Portugal pedir dinheiro emprestado no mercado na próxima semana, uma diferença de 0,1% em 1.000 milhões de euros corresponde a mais, ou a menos, 1 milhão de euros de juros por pagar. É dinheiro que faz falta aqui.
Se quisermos taxas de juro consistentemente mais baixas, só há uma via: pagar as dívidas a tempo e horas, e continuar no caminho do rigor orçamental, não acedendo a todo o tipo de pedidos que sindicatos e corporações fazem. Mário Centeno dá ideia de ser uma pessoa prudente, só aliviando a carga fiscal e autorizando que o Estado gaste mais dinheiro em pequenos passos, graduais. Parece-me uma boa estratégia.