Entre 1870 e 1914 (data de início da I Guerra Mundial) o mundo viveu num sistema monetário conhecido por padrão-ouro: os bancos só podiam emitir moeda se tivessem uma determinada quantidade de ouro. As moedas nacionais podiam depois ser trocadas ou novamente em ouro ou em libras esterlinas, a moeda da superpotência da época, o Reino Unidos.
O sistema foi abandonado no período da guerra civil europeia do séc. XX (I Guerra Mundial entre 1914 – 1918, uma trégua de 21 anos, e depois a II Guerra Mundial entre 1939 e 1945). Quando a II Guerra Mundial acabou o Reino Unido estava exausto, pelo que quando o padrão-ouro regressou, em 1946, o ouro era convertido em dólares, que depois eram usados no comércio internacional. Além disso, os câmbios de uma moeda para outra não variavam, como hoje: era um sistema de câmbios fixos. No limite, um cidadão nacional podia dirigir-se a qualquer agência do Banco de Portugal, colocar notas de escudo em cima do balcão e dizer “quero receber”. Receber o quê? Dólares, pois todas as moedas tinham a sua taxa de câmbio indexada ao dólar americano, que depois era convertível em ouro.
Em Portugal, a obsessão de acumular ouro atingiu limites. Apesar de Vítor Constâncio, quando foi governador do Banco de Portugal, ter vendido parte do ouro, trocando-o por divisas fortes (dólares americanos, francos suíços, ienes), penso que Portugal ainda é o 1º país do mundo em termos de reservas de ouro por habitante. Não sabia? Tínhamos de ser os primeiros em alguma coisa…
O padrão-ouro acabou definitivamente em 1971, quando os Estados Unidos acabaram com a relação entre o dólar e o ouro, essencialmente para pagaram os custos da Guerra do Vietname. Os bancos centrais passaram a emitir moeda na quantidade que desejassem, e os câmbios das diversas divisas a flutuarem livremente nos mercados.
E assim chegamos ao dia 19 de novembro de 2016, em que eu leio no Expresso uma extensa entrevista com o conceituado académico da Universidade de Harvard, Kennet Rogoff. E, aparentemente, Trump quer ir colocando, à medida que os vice-governadores e a presidente do banco central dos Estados Unidos, Jannet Yielen, forem sendo substituídos nos finais dos seus mandatos, pessoas favoráveis à reintrodução do padrão-ouro.
Isto, a meu ver, é uma loucura completa. As políticas que estiveram ou ainda estão em vigor nos Estados Unidos, no Reino Unido e na zona-euro, e que consistem em criar moeda para estimular a atividade económica, teriam de ser abandonadas, pois os bancos centrais não poderiam criar moeda sem reservas em ouro. Como não se pode criar moeda sem ouro, o padrão-ouro é uma excelente maneira de controlar a inflação, mas se hoje estivesse em vigor o resultado seria uma crise económica prolongada, com deflação. A deflação é a queda sistemática dos preços, o que leva consumidores e empresas a adiarem os seus gastos na esperança de comprarem mais barato mais tarde, o que por sua vez contribui para novas quedas na produção, agravando a crise económica num ciclo vicioso.
Isto é no campo económico. No campo político, Trump está a preencher a sua futura administração com pessoas abertamente racistas e xenófobas. Não auguro nada de bom para os próximos quatro anos.