Estas operações são normais, e o montante a pedir podia até ser superior: no site do IGCP, o organismo que gere a dívida pública, pode ler-se que neste último trimestre iriam ser contraídos um ou dois empréstimos a longo prazo. O facto de ser só um empréstimo são boas notícias.
O lado mau é que as taxas de juro subiram. O Diário de Notícias escreve que da última vez que Portugal pediu dinheiro emprestado com este prazo, a taxa de juro obtida foi de 1,175%. Mas hoje os juros da dívida portuguesa a cinco anos, às 10:30 da manhã, estavam em 1,023%. Se Portugal se endividar 500 milhões de euros na quarta-feira a esta taxa, em relação ao último empréstimo pagará 2,8 milhões de juros adicionais por ano, 14 milhões no total dos cinco anos. Se o empréstimo for de 750 milhões de euros, sempre à taxa de hoje – 1,023% – o aumento de juros a pagar anualmente será de 4,2 milhões de euros, 21 milhões ao longo dos cinco anos.
Esta é, fundamentalmente, a consequência do efeito Trump: a inesperada eleição do magnata do imobiliário está a fazer subir as taxas de juro por todo o mundo, especialmente nos países com piores finanças públicas, como Portugal.
A instabilidade política está presente também na Europa. De ontem a duas semanas teremos um referendo constitucional em Itália, e o primeiro-ministro Matteo Renzi já disse que se o resultado do referendo for “não” se demite. Sabemos como os mercados detestam instabilidade política, e a demissão do primeiro-ministro da terceira maior economia da zona-euro não deixará de trazer ondas de choque, sob a forma de juros mais altos.
Depois temos as eleições presidenciais francesas, em março, em que todas as sondagens apontam que a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, vai chegar à segunda volta. Ter uma candidata de extrema-direita nas eleições presidenciais da segunda maior economia da zona-euro será o suficiente para pôr os mercados nervosos. É pouco provável, mas a eleição da senhora seria um verdadeiro pesadelo.
Sempre por ordem crescente, chegamos à maior economia da zona-euro, a Alemanha, que tem eleições legislativas depois do verão. A chanceler Angela Merkel é claramente a favorita para um quarto mandato (já é chanceler desde 2005). Dificilmente terá maioria absoluta, pelo que deverá escolher cuidadosamente o seu parceiro de coligação, que nunca poderá ser a extrema-direita, que pela primeira vez na história da Alemanha pós-1945 pode eleger, democraticamente, deputados (nunca é de mais recordar que Hitler também foi democraticamente eleito).
A cereja em cima do bolo será o início das negociações, em princípio em março, para a saída do Reino Unido da União Europeia, o brexit. Como uma complicação nunca vem só, a Escócia, onde o “ficar” na UE ganhou, quer um novo referendo sobre a independência, de forma a não ter que sair. Este novo referendo terá sempre de ter o acordo do governo de Londres, mas ao que parece as negociações nem sequer começaram.
E aqui está, sumarizada, uma pequena lista do que pode correr mal. Para Portugal, a recomendação é de prudência, de forma a ter de se endividar cada vez menos (é impossível deixar de se endividar, pois é sempre preciso pedir dinheiro novo para pagar a dívida que chegou ao fim do prazo), e dessa forma ser o menos atingido possível pela subida das taxas de juro que se instalou no mercado.