1.É a manchete do SOL de Sábado, ainda disponível nas bancas: Pedro Santana Lopes não desiste do seu sonho de recuperar a liderança do PSD. Trata-se de um sonho antigo do actual Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa: exercer a liderança dos sociais-democratas, recuperando o legado de Francisco Sá Carneiro, seu inspirador político.
Perguntará o leitor mais atento: mas Santana Lopes já não conquistou esse sonho? Não é um ex-Primeiro-Ministro? Formalmente, é verdade, caríssimo leitor – Pedro Santana Lopes já foi Primeiro-Ministro e já liderou o PSD.
2.Contudo, há experiências que mais valia não terem ocorrido – esta foi uma delas. Pedro Santana Lopes foi Primeiro-Ministro…durante quatro meses! E quatro meses em que se sucederam “factos e factinhos” que foram então qualificados como “trapalhadas” – hoje, à luz dos critérios valorativos actuais, seriam apenas “factos políticos sem importância” ou “factos insólitos mas insusceptíveis de gerar responsabilidade política”.
Efectivamente, comparar uma demissão de um Ministro menor, como Henrique Chaves, com o folhetim que vivemos a propósito da administração da Caixa Geral de Depósitos, os “emails” trocados entre o Ministro da Educação e o seu Gabinete ou o amigo de António Costa que é membro informal do Governo – é apenas um exercício de sátira política (ou, então, de pura desonestidade intelectual).
3.Posto isto, é natural que Pedro Santana Lopes queira rever o lugar que a História política portuguesa lhe reserva. Quem conhece Santana Lopes bem, sabe que é uma pessoa que vive para a política – a política é a sua razão de viver, para além da vida familiar que muito preza.
Embora esteja a apreciar (e muito) a possibilidade de ajudar a melhorar a vida de numerosas pessoas na região de Lisboa, o cargo de Provedor não satisfaz Pedro Santana Lopes: ele sabe – sente e pressente, e já confidenciou aos mais próximos – que está na hora de assumir um desafio mais estimulante, mais intenso politicamente. Pedro Santana Lopes sabe que o que ficará na História é o seu lugar muito pouco feliz como Primeiro-Ministro – por muito meritória que seja a sua actuação como Provedor da Santa Casa.
Donde, Pedro Santana Lopes –como nós antecipámos em primeira mão – ponderou seriamente em avançar para nova candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Todavia, divergências estratégicas com os dirigentes do PSD (nacional e estruturas locais) , somando às sondagens que lhe são pouco abonatórias (isto é: não lhe dão um resultado que permita antecipar a sua vitória com segurança) e à candidatura de Assunção Cristas (que Santana Lopes teme, pelos méritos pessoais da candidatura e pelos efeitos de dispersão do voto à direita), levaram Pedro Santana Lopes a recuar.
Hoje é certo: Pedro Santana Lopes não será candidato à Câmara Municipal de Lisboa – mas só o dirá publicamente em Fevereiro do próximo ano, podendo até apoiar publicamente Assunção Cristas.
4.Desistir da corrida à Câmara Municipal de Lisboa, não significa, porém, que Pedro Santana Lopes esteja a pensar na sua reforma política: não – Santana quer mesmo a liderança do PSD, substituindo Pedro Passos Coelho. Daí que as suas crónicas, que assina no “Correio da Manhã”, se tenham deslocado do tema Lisboa para temas mais nacionais, comentando sempre as movimentações alheias no partido. Desde Rui Rio até Luís Marques Mendes, ninguém tem escapado aos comentários de Pedro Santana Lopes.
5.E a verdade é que o actual Provedor da Santa Casa tem dois cenários em cima da mesa:
Cenário 1 – Santana Lopes avança para a liderança, disputando as eleições internas contra José Eduardo Martins e/ou Luís Montenegro. A seu lado, terá a ala afecta a Rui Rio, incluindo (por razões estratégicas) Nuno Morais Sarmento. Porquê? Por uma razão táctica de Rio: Rui Rio detesta disputar eleições, sobretudo eleições internas. Teme que a irracionalidade das bases, o caciquismo das estruturas intermédias do partido, as jogadas partidárias o tramem. Não havendo uma passadeira vermelha estendida para si, Rui Rio preferirá não ir a jogo –não enjeitando, no entanto, ser candidato a Primeiro-Ministro. Assim, Pedro Santana Lopes, mais habituado às lides partidárias internas e aos “truques” da máquina, poderá avançar, ficando como líder do PSD – mas oferecendo a Rui Rio a possibilidade de ser candidato a Primeiro-Ministro. Qual seria a vantagem de Santana Lopes? Fácil: ter o controlo do partido e determinar o próximo candidato presidencial apoiado pelo PSD. Como não é certo que Marcelo faça um segundo mandato, Santana poderia avançar já em 2021, tirando o lugar ao homem que já só pensa em Belém: Luís Marques Mendes.
Cenário 2 – Pedro Santana Lopes avança só depois de saber o nome dos seus adversários, mesmo contra Rui Rio. Neste cenário, Santana procurará aproveitar as divisões criadas no partido, potenciando o seu estatuto de senador. O próprio já deixou antever este cenário na sua crónica da última semana quando afirma que o PSD poderá, muito provavelmente, que recuar uma geração na sua elite dirigente: leia-se, recuar à geração de Pedro Santana Lopes. Neste cenário, Pedro Santana Lopes dependerá (e muito!) do apoio de Marco António Costa. Sabemos de fonte segura que Santana e Marco António têm falado regularmente. E, ao contrário do que tem sido escrito na imprensa, Marco António não foi um adepto fervoroso de Rui Rio para Belém, como alternativa a Marcelo Rebelo de Sousa: antes, Marco António tentou forçar até à última hora uma candidatura de Pedro Santana Lopes, mesmo contra Marcelo. A aliança Santana Lopes-Marco António poderá, pois, ressuscitar nos próximos meses.
6.Uma coisa é certa: Santana Lopes está mesmo aí – e ficará por aqui.
Por aqui, a condicionar o futuro do PSD. O que não deixa de ser irónico e revelador da incapacidade do partido em se renovar – trinta anos volvidos, o partido ainda está preso ao grupo da “Nova Esperança”.
Com uma ironia da História: pela primeira vez, poder-se-á ter, em simultâneo, um Presidente da República e um líder da oposição oriundos desse Grupo: Marcelo em Belém; Pedro Santana Lopes na liderança do partido…Nossa pergunta: como irá Marcelo (arqui-inimigo de Santana Lopes) reagir à candidatura do seu “amigo” à liderança do PSD? Dizem-nos que Marcelo Rebelo de Sousa tem desvalorizado esse cenário, qualificando-o de “pura especulação teórica” e uma “infantilidade”…Será, Senhor Presidente? Olhe que não, olhe que não…