UKIP. Farage acusado de utilizar fundos europeus em campanhas internas

Justiça britânica vai investigar denúncia da UE sobre o financiamento da corrida do líder do UKIP a Westminster e da campanha para o Brexit

O líder interino do partido nacionalista britânico está novamente debaixo dos holofotes, pelas piores razões. Não porque tenha dito qualquer extravagância contra os imigrantes ou contra a globalização e nem mesmo por causa do seu novo estatuto de melhor amigo do presidente eleito dos EUA – Donald Trump fez questão de partilhar com os seus seguidores do Twitter que gostaria de ver Nigel Farage no lugar de embaixador do Reino Unido em Washington. Desta vez recai sobre ele uma investigação sobre a utilização ilegal de fundos europeus, na campanha para as legislativas britânicas de 2015 e para o referendo que resultou na intenção popular de abandonar a União Europeia, no final de junho deste ano.

Na segunda-feira o Parlamento Europeu oficializou as suspeitas, que já tinham sido avançadas pela comunicação social britânica durante a semana que passou, e que davam conta que o Grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta (ADDE) – que engloba os eurodeputados do UKIP e outros membros de partidos da extrema-direita europeia no parlamento comunitário – tinha transferido perto de 500 mil euros do orçamento fornecido pela UE, para aquele partido britânico. Hoje foi a vez da Comissão Eleitoral do Reino Unido anunciar a abertura de uma investigação sobre a utilização indevida desses fundos, com o intuito de perceber se há indícios de violação da legislação local.

“[O financiamento da UE aos seus grupos partidários] não pode ser utilizado para (…) subsidiar partidos nacionais, candidatos eleitorais e fundações políticas, direta ou indiretamente, a nível doméstico e europeu”, pode ler-se no comunicado divulgado pelo órgão que fiscaliza todas as atividades eleitorais no Reino Unido, dando conta da comunicação do Parlamento Europeu que “concluía formalmente” que o ADDE tinha utilizado dinheiro comunitário para “beneficiar o UKIP”. “A Comissão abriu a sua própria investigação sobre o UKIP, para perceber se houve alguma violação da legislação eleitoral britânica (…) incluindo quaisquer doações ilícitas que possam ter sido aceites pelo partido”.

Fundos pagaram sondagens

Segundo o relatório da câmara legislativa da UE, o dinheiro foi utilizado ilegalmente para financiar sondagens em regiões do Reino Unido onde o UKIP tem um grupo significativo de apoiantes. Incluindo South Thanet, a circunscrição onde Farage não conseguiu vencer o lugar de deputado, nas  últimas eleições legislativas. Os estudos foram levados a cabo entre fevereiro e dezembro de 2015 e também abrangeram averiguações sobre a posição dos habitantes daquelas áreas do país, relativamente ao Brexit. “As atividades do ADDE que violaram as regras sobre o financiamento partidário foram nove sondagens de opinião, realizadas no Reino Unido antes das eleições legislativas de 2015 e antes do referendo (…), bem como um relatório sobre estas sondagens”, referiu a instituição com sede em Estrasburgo, em comunicado.

Como medida imediata, o Parlamento Europeu exige do ADDE a devolução de cerca de 173 mil euros e a renúncia aos 248 mil que ainda tem a receber. Caso a investigação da Comissão Eleitoral britânica conclua que os fundos foram aplicados de forma ilícita, o UKIP poderá ter de pagar outros 23 mil euros de multa.

Citado pela BBC, o eurodeputado Roger Helmer, daquele partido independentista, catalogou a denúncia como uma “perseguição” e uma “vingança pelo Brexit”. Nigel Farage, por seu lado, disse à Sky News que o UKIP é a “vítima” em todo o processo.