Um ministro das finanças europeu

Num discurso proferido numa conferência organizada pelo Banco de Portugal, o seu governador, Carlos Costa, proferiu um discurso interessante, retomando algumas ideias que, não sendo novas, não perderam a sua atualidade, antes pelo contrário.

Tratou de fazer a radiografia da zona-euro: uma zona monetária comum, com a mesma moeda e as mesmas taxas de juro para os seus 19 membros, mas com 19 políticas orçamentais distintas. Realmente, seria necessária uma improvável conjugação dos astros para que 19 orçamentos independentes fossem todos na mesma direção. Essa falta de coordenação é o que explica que tenhamos, por um lado, países como a Alemanha, com um enorme excedente nas suas contas com o exterior e com falta de mão-de-obra, e por outro lado países como Portugal, em que o equilíbrio das contas com o exterior só foi alcançado com enormes sacrifícios, e onde a taxa de desemprego é superior a 10%.

O que nos leva de volta ao discurso do governador Carlos Costa: “Precisamos de um presidente do Eurogrupo que seja o reflexo de uma maioria parlamentar dos países que estão na zona-euro e que responda perante a maioria parlamentar ao correspondente subgrupo de países dentro do Parlamento Europeu.”

De forma mais sintética, Costa afirmou que “O que temos é falta de um governo na zona-euro, de alguém que no dia-a-dia está a olhar pelo todo e a tomar a responsabilidade pelo todo.”

Esta é, pois, a ideia de uma Europa mais federal, e também mais solidária, em que os países com excedentes orçamentais devem dispensar parte do dinheiro que têm em excesso e, com condições, doá-lo aos países que têm défices orçamentais.

É algo estranho o retomar destas ideias, que não são novas – há vários anos que há pessoas a defender que uma união monetária sem uma união orçamental, como é hoje a zona-euro, não pode funcionar bem – ideias essas retomadas no preciso momento em que os Estados Unidos e o Reino Unido se querem fechar sobre si próprios. São duas correntes de pensamento opostas.

E qual será a mais correta? Bem, sabemos que o comércio livre é de uma forma geral vantajoso. Ontem fui à procura de um livro na internet, que achei, numa cadeia de lojas portuguesa, por um determinado preço. Continuei a procurar, e achei-o numa loja inglesa, por menos de metade do preço, já contando com os portes de envio, e comprei-o. Não sei se depois do brexit a livre concorrência poderá continuar assim tão bem.

Uma Europa mais federal faz horror a muita gente, mas provavelmente Carlos Costa está certo no que defende. A CEE começou por ser uma zona de comércio livre, depois tornou-se, para os países que quiseram e puderam entrar, uma zona monetária própria. Falta agora um pouco de coragem para avançar para a etapa seguinte: orçamentos que, mesmo parcialmente, sejam de responsabilidade comum.