1.E já decorreram duas semanas desde que o mundo livre sabe que o seu próximo líder chama-se Donald J. Trump. Aos primeiros dias de agitação, incredulidade (vejam só: afinal, a democracia do, para e pelo povo funciona mesmo contra as “elites pseudo-vanguardistas”!) e fúria, começam a suceder-se os dias da racionalidade, da acalmia tolerante e da compreensão democrática.
Os Estados Unidos da América são a maior (e, apesar de todos os seus defeitos – comuns a todas as criações humanas – e melhor) democracia do mundo: e continuarão a ser nos próximo quatro (oito?) anos da administração Donald Trump.
2.E como tem agido “o Donald” no seu novo estatuto de “Presidente eleito”? Mais uma vez, Donald Trump tem surpreendido. Nós estamos à vontade, na medida em que andámos aqui a pregar no SOL que os traços mais “extremistas” de Donald Trump assentavam numa estratégia de surpreender, de chocar para marcar, de romper com o sistema – é que caso Donald Trump tivesse adoptado um discurso moderado na campanha, fosse apresentado como mais um paladino do “politicamente correcto” ou até um seu mero apologista suave, Trump teria ficado pelas primárias.
3.Hoje, não seria mais do que um derrotado monumental- um rejeitado pelas “bases” do Partido Republicano sem apelo, nem agravo. Por que razão iria um simpatizante do GOP votar em Donald Trump, confiar neste candidato, se o seu discurso, a sua postura, o seu programa era igual ao de Jeb Bush ou de John Kasich? Havendo discursos iguais, o factor decisivo teria sido a experiência, o conhecimento de assuntos governativos, a complacência com o “establishment”.
O grande mérito de Donald Trump foi ter percebido a desilusão da “main street” e as possibilidades de comunicação da política contemporânea, com a ascensão do Facebook, do Twitter e outras redes sociais.
Para romper com o status quo (que o rejeitaria sempre como candidato presidencial), Donald Trumo teria de romper com o discurso do politicamente correcto. Pois bem, é no âmbito desta estratégia de indignar para ganhar que surgem propostas como a construção de um “giant wall” a ser pago pelo México…
Evidentemente, o muro não será pago pelo México (a não ser que o Governo mexicano colabore numa lógica de reforço da segurança na fronteira com os EUA) e limita-se a simbolizar um aposta no controlo das fronteiras, sobretudo protegendo mais eficazmente os estados onde é mais premente o risco da violência perpetrada por máfias e gangues ligados aos grupos de narcotraficantes.
4.A estratégia de Trump revelou-se um sucesso histórico. E o Trump, na sua encarnação presidencial, tem estado à altura da sua responsabilidade histórica. Primeiro, porque percebeu que o seu primeiro objectivo é o de sarar as feridas da América dividida, de unir todos os cidadãos americanos em torno dos valores civilizacionais da grande Nação Americana – liberdade, responsabilidade individual, fé em Deus e fé no indivíduo.
Às divisões de grupos, de ideologias, de partidos, de interesses económicos ou sociais, de revanchismos eleitorais inconsequentes – o Presidente Donald J. Trump terá de preferir a união na fidelidade à “Stars and Stripes” e o apego ao “ patriotismo constitucional”, que se traduz, no campo da política externa, no “exceptionalismo americano”: a prioridade será sempre o interesse dos Estados Unidos da América – o que implica frequentemente, no mundo globalizado em que vivemos, uma presença americana forte no plano internacional.
5.Destarte, os interesses dos Estados Unidos e os interesses do mundo são muitas vezes coincidentes – defender as liberdades independentemente da latitude e da longitude, bem como promover a segurança mundial são interesses que fazem dos EUA “great again” – fazendo do Mundo “safe and free once again”.
Os factos são positivos – e mesmo os cultores do politicamente correcto não o podem negar: Donald Trump já reuniu com líderes mundiais, como Shinzo Abe, o Primeiro-Ministro do Japão; prepara uma equipa com personalidades com experiência, competência e talento, como Mitt Romney (preferencialmente, como Secretário de Estado), Rudy Giuliani (nosso palpite: Administração Interna – Homeland security) , Kellyanne Conway para a relação com os media e Ben Carson (saúde ou habitação e desenvolvimento local). A próxima Administração pode inclusive ser aquela com nomes mais fortes – porque politicamente mais sonantes e com méritos já reconhecidos, quer no exercício de actividades públicas, quer no exercício de actividades privadas – em pastas relevantes.
6.Em suma: desenganem-se os críticos, as elites que, como fez o “Público”, antecipavam que a Presidência de Trump seria necessariamente um desastre porque “Donald Trump era um tipo remediado de Queens que fez dinheiro a construir e vender casas como empresário”. Falta-lhe berço aristocraticamente embalado – alegam os “progressistas” portugueses. Cá para nós, no final da história, será o sucesso de Donald Trump – que é dizer, o sucesso dos Estados Unidos – a embalar carinhosamente o “berço progressivo-catastrofista” dos nossos “cavaleiros esquerdistas do apocalipse”…
7.Nossa pergunta: Donald Trump tem tudo para correr mal. Já António Costa com Jerónimo de Sousa (um comunista ortodoxo, um “dinossauro político em vias de extinção” na Europa e, graças a Deus, no Mundo) e Catarina Martins (a esquerda sectária, folclórica e anarquista) tem tudo para dar bem, não é? Claro que sim – porque como António Costa tem “berço”, ninguém o pode criticar…Chiu, chiu, meu caro leitor: não diga a ninguém que ousamos criticar o nosso querido líder…não vá o berço tecê-las e as nossas elites vanguardistas revoltaram-se…
8.Em Portugal, nesta ilha da estabilidade progressista de berço, somos verdadeiramente socialistas: somos todos iguais – só que uns são sempre mais iguais do que outros…À boa maneira de Estaline, esse “pai do povo”!