A crise deu connosco em malucos

Leio no Diário de Notícias que “Um terço dos portugueses sofre de perturbações mentais”. Trata-se da apresentação de um estudo, hoje à tarde na Gulbenkian, da autoria de José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, e baseia-se na atualização, em 2015, do inquérito sobre saúde mental de 2008/2009

Ora isso é muito interessante, porque permite comparar a saúde mental dos portugueses no período pré-troika, 2008, com outro ponto, 2015, em que estes já passaram pelos sacrifícios impostos pelos nossos credores.

As conclusões são alarmantes. Citando o DN “Os problemas de saúde mental em Portugal, sobretudo os casos mais graves, aumentaram com a crise económica, atingindo quase um terço da população em 2015, a par de um aumento de antidepressivos e ansiolíticos (…)”.

O aumento dos problemas de saúde mental em Portugal, em termos relativos, foi de mais de 50% entre 2008 e 2015: de 19,8% do total da população nacional em 2008, para 31,2% em 2015.

E podemos relacionar esta subida significativa com o programa de ajustamento financeiro? Sim, podemos. Podemos relacionar positivamente a diminuição de rendimentos, o desemprego, a privação financeira e a descida do estatuto socioeconómico, a par de elevados padrões de perturbações depressivas e de ansiedade, com a crise económica.

O estudo revela ainda que apenas 40% das pessoas com problemas teve acesso aos cuidados de saúde adequados, sendo as principais dificuldades cobrir os custos e marcar consultas.

No fim de ler o sumário deste estudo, duas coisas me passam pela cabeça. A primeira, é perguntar-me como é que foi possível chegarmos ao ponto em que tivemos de pedir ajuda à troika (a irresponsabilidade financeira dos governos de Sócrates), e achar que a prioridade de qualquer governo deve ser impedir que isso aconteça outra vez. A segunda foi aquela célebre frase que Luís Montenegro, do PSD, proferiu no parlamento “Portugal está melhor, mas os portugueses ainda não estão melhor”, ou outro disparate parecido. Não, os portugueses não estão melhor, estão pior, como este estudo sobre a saúde mental veio demonstrar. A não ser que o objetivo seja transformarmo-nos num “país-Prozac”.