Birmânia. Ataques causam êxodo da minoria muçulmana

ONU acusa governo birmanês de estar a cometer “atrocidades” contra a população rohingya

A mais recente vaga de violência entre as autoridades birmanesas e a população minoritária muçulmana causou a morte de quase cem pessoas e o êxodo de milhares de deslocados para o vizinho Bangladesh. De acordo com as Nações Unidas, polícia e exército estão a punir coletivamente a minoria rohingya como resposta à morte de nove agentes de fronteira birmaneses, no início de outubro, atribuída a um grupo militante muçulmano. O governo nega as acusações de violência, mas a ONU anunciou ontem que a população muçulmana está a sofrer “atrocidades”.

Segundo John McKissick, líder do gabinete de proteção a refugiados das Nações Unidas no Bangladesh, as autoridades birmanesas “estão a matar homens, a exterminar crianças, a violar as mulheres e estão a queimar e saquear casas”. O_governo birmanês, que pela primeira vez em várias décadas está nas mãos da histórica líder da oposição Aung San Suu Kyi, embora a segurança continue sob o mando de uma junta militar, afirma que as alegações de McKissick são infundadas – mas jornalistas e agentes humanitários estão impedidos de entrar nas zonas de conflito, onde o exército diz estar a realizar operações contra grupos extremistas. A linha oficial afirma que são os próprios militantes muçulmanos quem está a incendiar as casas – em apenas oito dias, quase mil casas ficaram destruídas em Rakhine, onde vive a população muçulmana. Aung San Suu Kyi tem evitado jornalistas e prometeu que as operações estão a ocorrer “nas margens da lei”. A Nobel da Paz ocupa o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros, mas é a verdadeira líder, que, no entanto, tem uma relação difícil com os resquícios da ditadura militar.

O Bangladesh reconhece que alguns milhares de pessoas cruzaram a fronteira, mas não admite dar passagem aberta aos cerca de 30 mil deslocados criados pelas operações militares. Segundo McKissick, isto acontece por receio de que abrir a fronteira cause pressão sobre os seus próprios habitantes e dê carta-branca às autoridades birmanesas. “É muito difícil ao governo do Bangladesh anunciar que a sua fronteira está aberta, porque isso só iria encorajar o governo birmanês a prosseguir as suas atrocidades e motivá-lo a cumprir o seu grande objetivo de realizar uma limpeza étnica da minoria muçulmana”, explicou à BBC.