A OCDE alerta que a crise sentida em toda a Europa a partir de 2008 prejudicou o acesso à saúde, sobretudo nos grupos mais vulneráveis. Portugal não escapa ao fenómeno. Os dados publicados esta semana revelam que triplicou a percentagem de portugueses que dizem ter necessidades de saúde por satisfazer por razões financeiras.
Os autores do relatório usaram dados do Eurostat para chegar a esta conclusão, que indicam que a percentagem de portugueses nesta situação passou de 2,2% em 2008 para 6,3% e 2014.
Na Grécia e em Itália há restrições ainda maiores: mais de 10% da população admite ter dificuldades, o dobro do que acontecia em 2008. Mas o maior aumento percentual foi em Portugal.
Um segundo indicador prende-se com as despesas que as famílias têm de fazer do seu próprio bolso para ter acesso à saúde, ou seja excluindo os impostos com que ajudam a financiar o SNS, o dinheiro que gastam na compra de medicamentos, taxas moderadoras ou pagamento de consultas a título particular.
Em média, as famílias europeias assumiram diretamente 15% dos encargos com saúde em 2014. Portugal é o quinto pais europeu onde os cidadãos mais cargos: 27,5% das despesas em saúde são suportadas pelas famílias. O relatório revela ainda que tem aumentado o recurso a seguros privados: em 2005, abrangiam 17,5% da população portuguesa e, em 2014, já mais de dois em cada portugueses teria também um seguro de saúde. Um estudo apresentado no ano passado pela Entidade Reguladora da Saúde ligou o crescimento dos seguros privados em Portugal ao desinvestimento público na saúde.
No que toca a investimento, o relatório da OCDE permite perceber como se compara o país com o que acontece lá fora e a conclusão não é animadora. A despesa pública em saúde em Portugal representou em 201 5,8% do PIB, contra uma média de 7,8% na União Europeia. Há países a alocar uma parcela muito maior à saúde, como Alemanha (9,4%) ou França (8,6%). Portugal, a este ritmo, está mais perto da cauda do investimento, com a Grécia a registar uma despesa pública na saúde de 5% do PIB ou a Roménia 4% do PIB. O país é o segundo com uma menor despesa pública por capita: 1299 euros ajustados ao poder de compra por pessoa e por ano, contra uma média de 2177 euros na União Europeia.
O estudo “Health at a Glance: Europe 2016” reforça um alerta que tem vindo a ser feito por outras entidades como o FMI. No futuro, a despesa em saúde vai aumentar, fruto do envelhecimento da população e do aparecimento de novas tecnologias e medicamentos. Portugal é dos países onde se prevê um maior aumento da despesa pública em saúde até 2060. Por essa altura, o país cada vez mais envelhecido e com um grande peso de doenças crónicas deverá precisar de investir 8,5% do PIB em saúde, acima dos gastos da União Europeia.