A discussão não é de agora, mas voltou à atualidade por causa de Wayne Rooney, por estes dias o homem mais falado de Inglaterra. E tudo por um ‘deslize’ enquanto estava ao serviço da seleção: aproveitando uma noite de folga, o avançado do Manchester United talvez tenha exagerado na bebida, como o comprovam as imagens e, acima de tudo, os depoimentos revelados pelo tabloide britânico “The Sun”. Entre outras peripécias, Rooney, que nem precisou de sair do hotel onde a equipa nacional estava instalada – foi convidado a juntar-se a uma festa de casamento que decorria no local –, atirou-se à mulher de um convidado do casamento, insultou o DJ por este estar a… passar música enquanto ele tentava ouvir a sua própria música no telemóvel, e ainda caiu em cima de um piano. Ao seu lado, estava o colega Jagielka, que terá também bebido mais do que devia e acabou a fazer uma proposta sexual à menina recém-casada – enquanto o marido jazia embriagado no quarto.
Mas a loucura com jogadores ingleses nessa noite nem ficou por aqui: de acordo com relatos do mesmo jornal, Jordan Henderson e Adam Lallana, ambos jogadores do Liverpool, terão deixado a concentração para se deslocarem a um clube de striptease em Bournemouth, de sugestivo nome “For Your Eyes Only” – do qual, aparentemente, são frequentadores assíduos, tal como outros jogadores do histórico clube inglês.
Uma questão cultural
Esta não foi a primeira vez em que Rooney e o futebol inglês se veem envolvidos em situações do género. Longe disso. No passado, o capitão da seleção inglesa já foi visto a fumar e urinar em via pública em avançado estado de embriaguez – e antes dele, muitos nomes grandes da história do futebol britânico o fizeram. É uma característica típica da cultura britânica, como frisou Rio Ferdinand em 2010, numa altura em que o então jovem avançado Andy Carroll estava a despontar na seleção inglesa – e, ao mesmo tempo, era já notícia pela predileção para ficar até tarde nos pubs a beber.
George Best é, provavelmente, o nome mais conhecido por misturar o talento para o futebol com a paixão por tudo o que são as coisas ‘terrenas’. Frases como “Uma vez, deixei as mulheres e o álcool. Foram os piores 20 minutos da minha vida” ou “Gastei muito dinheiro em bebida, mulheres e carros rápidos. O resto, desperdicei”, por si só, já ajudam a explicar o lado boémio do norte-irlandês, possivelmente o primeiro rockstar do mundo do futebol – também porque no campo era igualmente genial. Recebeu um transplante de fígado em 2002, mas nem assim parou de beber. Morreu em 2005, vítima de inúmeras infeções internas.
Depois veio Paul Gascoigne, outro jogador carregado de talento, mas com especial predileção para jogo, drogas, fast-food e, acima de tudo, álcool. O vício já o levou ao abismo várias vezes – incluindo tentativas de suicídio. Também inglês, Tony Adams é um lendário capitão do Arsenal, que representou durante toda a sua carreira (19 anos). Foi também, durante muitos anos, um alcoólico inveterado – era frequente vê-lo a a provocar rixas nos bares da noite de Londres. Em 1990, chegou a ser preso por conduzir bêbado. Seis anos depois, começou a combater o vício: a sua autobiografia, “Addicted”, tornou-se um bestseller e hoje tem o seu próprio centro de cura e reabilitação para desportistas.
Até uma sogra foi sacrificada
Fora de Inglaterra, reina Garrincha, que muitos brasileiros consideram ter sido melhor que Pelé. O Anjo das Pernas Tortas morreu de cirrose em 1983, aos 50 anos, numa altura em que estava em coma alcoólico, depois de anos incontáveis de consumo excessivo – pelo meio, inúmeros acidentes de automóvel por conduzir embriagado, tendo num dos quais provocado a morte da sua sogra, em 1969. Deixou 14 filhos (conhecidos) de várias mães diferentes.
Ladislau Kubala, nome grande do Barcelona, só assinou pelos blaugrana porque estava completamente bêbado quando se preparava para viajar para Madrid – era suposto ter ido jogar para o Real. Dirigentes do Barcelona levaram-no para a Catalunha e fizeram-no assinar pelo clube – algo de que só se apercebeu no dia seguinte…
Diego Maradona, conhecido sobretudo pela sua adição à cocaína – além do talento natural para o futebol, que o fez ser um dos melhores futebolistas de sempre –, revelou na sua autobiografia que podia ter sido ainda melhor “se não bebesse uma garrafa de whisky por noite”. Cicinho, lateral-direito brasileiro que chegou a jogar no Real Madrid, já revelou ter numa altura bebido três grades de cerveja por noite… E no futebol atual, como esquecer Balotelli, com um histórico infindável de polémicas relacionadas com vícios, ou Bendtner, conhecido nas redes sociais como Lord precisamente por fazer (às claras) tudo o que é desaconselhável num profissional de futebol – já foi apanhado de calças em baixo a esfregar-se… num táxi, ao qual ainda chicoteou com o cinto, chamando-lhe “sua p…”. Depois, chamou a polícia.
Antigamente era sempre a dar
Estilos de vida incompatíveis com a prática do futebol profissional, dizem os estudiosos. Mas talvez não seja bem assim, de acordo com algumas personalidades que lá andam (ou andaram) muito tempo. Ray Parlour, velha glória do Arsenal, conta como foi uma noite na primeira pré-temporada de Arsène Wenger no clube londrino, nos idos de 1997. “Nessa pré-época, cinco de nós beberam 35 pints (cervejas de meio litro) na última noite. E os franceses que chegaram nesse ano estavam todos a fumar. No fim, fizemos a dobradinha”, salientou, corroborado pelo antigo colega Nigel Winterburn: “Eu costumava ir ao pub com os adeptos sempre que ganhávamos um jogo em casa. Adorava e não era problema nenhum.”
Palavras que vão ao encontro do discurso de Jurgen Klopp, treinador do Liverpool, quando confrontado com o caso de Rooney. “Esta geração de jogadores é a mais profissional que já tivemos, não só em Inglaterra. Todas as lendas que vocês admiram bebiam como diabos e fumavam como loucos e, mesmo assim, eram bons jogadores. Ninguém faz isso hoje em dia. Tenho pena dos jogadores. Talvez seja uma surpresa para algumas pessoas, mas há um humano por trás do jogador…”. Sábias palavras.