Vale a pena chorar a morte de Fidel Castro? Vale tanto a pena chorar Fidel como valeria a pena chorar a morte de Estaline e outros ditadores comunistas sanguinários. Dir-se-á que Cuba tem um sistema de saúde e de educação magníficos. Pois, mas algum português aceitaria sacrificar o que os cubanos têm de sacrificar para ter um sistema de saúde dito de qualidade? Aceitaríamos ser escravos para ter melhor saúde?
Aceitaríamos ser escravos para ter um sistema de educação ligeiramente melhor (sim, porque ninguém ouve o nome de investigadores cubanos entre os melhores da sua categoria ou especialidade…)? Claro que não: e ainda bem.
Celebrar-se Fidel Castro pelas suas conquistas na saúde e na educação, eliminando da consciência histórica colectiva tudo o resto – é o mesmo que celebrar António de Oliveira Salazar pelos seus feitos no equilíbrio das finanças públicas e os seus êxitos diplomáticos no decurso da II Guerra Mundial, branqueando-se o cercear das liberdades políticas e cívicas.
Ouvir os líderes políticos mundiais a evocar com emoção, carinho e saudade Fidel Castro é muito elucidativo: ilustra muito bem o que certos políticos pensam sobre a democracia. São todos democratas e todos se preocupam muito com Marine Le Pen ou o candidato presidencial da Áustria oriundo da extrema-direita – mas quando é para se juntarem à festa em torno do regime cubano, esquecem facilmente o povo cubano, o sofrimento dos que foram brutalmente assassinados, perseguidos, torturados, exilados apenas porque ousavam pensar livremente.
Apenas porque ousaram experimentar a sensação mais radical que o ser humano pode ter – ser livre. Ousaram desafiar a ditadura sanguinária e o pensamento único castrista que só trouxe miséria, mais desigualdade e a , breve trecho, implosões sociais em Cuba, com dimensão semelhante àquelas que testemunhamos na Venezuela.
Não incluímos aqui, nesta galeria de hipócritas, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa: esse só quer ficar na história como o último político estrangeiro a falar com Fidel Castro (e para manter a gravitas do momento tem que evocar em termos muito laudatórios a personagem cubana), bem como dar uns “mimos” adicionais ao Partido Comunista.
Nossa pergunta: e se Fidel Castro fosse de direita? E se Fidel Castro não fosse comunista, mantivesse durante anos a fio um regime assassino, mas assegurasse cuidados de saúde e serviços de educação de qualidade? Esta “tropa fandanga” de políticos internacionais que elogiam, em termos desabridos, o ditador cubano aparecia na mesma? Seria tão simpática? Claro que não: o problema é que enquanto a extrema-direita merece uma legítima repulsa e oposição; a extrema-esquerda merece uma ilegítima aceitação e louvação. Até parece que os seres humanos perseguidos, torturados e mortos pela extrema-direita têm um valor maior superior do que os seres humanos perseguidos, torturados e mortos pela extrema-esquerda! Não têm: qualquer inimigo da liberdade é inimigo da Humanidade. Quer venha da esquerda, quer venha da direita.
Uma última nota: todos afirmavam que Donald Trump era a marioneta de Putin. Que Donald Trump estaria sempre com Putin. Pois bem, até ao momento em que escrevemos a presente prosa, apenas o Presidente eleito dos EUA teve coragem e lucidez para qualificar Fidel Castro tal como ele era e tal como ficará para a História (pelo menos, naquela que for escrita em termos independentes): um “ditador sanguinário”. Mais: Donald Trump foi o único que formulou o desejo de que o povo cubano possa, doravante e finalmente, viver em liberdade.
A liberdade que estes políticos e comentadores não tiveram, nem têm, para contar a verdade, e só a verdade, sobre Fidel Castro, condenando o seu regime de condenação de todos à miséria e à pobreza. Preferiram, antes, ficar presos pelo politicamente correcto e pelo mais fácil: elogiar um político que cometeu crimes contra a Humanidade. Fidel Castro foi, portanto, um criminoso internacional.
E não deixará Fidel Castro nenhum legado positivo? Sim, deixa: a sua memória. Contraditório com o que escrevemos atrás? Nem por sombras: a memória viva de Fidel Castro e da sua Cuba continuará a mostrar a todos o que é o comunismo. Antes de votar no Partido Comunista (que serão cada vez menos, sobretudo depois do acobardamento do PCP para fazer fretes ao PS), pense que está a votar num partido que quer transformar Portugal num pesadelo parecido com o de Cuba…
Esperemos, enfim, que Fidel Castro encontre paz no descanso eterno e que peça perdão pelos seus pecados. Nós por cá, um dia, haveremos de ir ao túmulo de Fidel Castro gritar-lhe, a alto e bom som: “ Hasta la libertad, siempre!”.