Confirmaram-se os resultados avançados pelas sondagens e François Fillon será o candidato do partido Os Republicanos às presidenciais de França, marcadas para abril (primeira volta) e maio (segunda volta) do próximo ano.
Que as sondagens acarretam consigo uma probabilidade significativa de falhanço daquilo que preveem, já todos sabíamos. Que este fenómeno aconteça de forma tão recorrente e em lugares onde a vitória de uma ou de outra parte afeta, de forma tão particular, o futuro dos respetivos eleitores, é algo que tem sido demasiado característico dos últimos tempos. Veja-se a decisão britânica pelo Brexit, a rejeição colombiana do acordo do governo com as FARC, a eleição norte-americana de Trump e, claro está, a sensacional ultrapassagem de Fillon à concorrência, na primeira volta das primárias dos conservadores franceses, há apenas uma semana.
Se no passado domingo os 44% arrecadados pelo candidato católico e liberal surpreenderam, sete dias depois é com naturalidade que Fillon vence as eleições internas d’ Os Republicanos e logra a nomeação para a corrida presidencial, tendo em conta o apoio declarado da maioria dos candidatos derrotados. As sondagens que falharam nesse dia 20 de novembro – que viu o favorito Alain Juppé ficar-se pelo segundo lugar e o candidato à segunda volta, Nicolas Sarkozy, obrigado a dizer adeus ao sonho de voltar aos Eliseu – acertaram mesmo, este domingo, e o candidato que tinha entre 55% e 67% das intenções de voto, conseguiu perto de 70%.
A ascensão de Fillon foi silenciosa mas eficaz. Apoiado na capacidade mobilizadora do eleitorado católico francês, o ex-primeiro ministro de Sarkozy, entre 2007 e 2012, o candidato apostou numa abordagem económica ultraliberalista e assente nos valores da família e da tradição francesa. Prometeu cortar, de uma assentada, 500 mil postos de trabalho da função pública e acabar com o desemprego no país – atualmente situado perto dos 10% – no espaço de cinco anos. Pelo meio rejeitou liminarmente que a França seja um país multicultural e mostrou-se disposto a liderar uma profunda reforma no ensino da História Francesa nas escolas, para que os franceses deixem de se envergonhar do seu passado colonizador.
Em setembro deste ano publicou um livro intitulado “Conquistar o Extremismo Islâmico”, onde sugeriu que a convivência rotineira dos franceses com este tipo de fundamentalismo pode ser um passo decisivo rumo a uma terceira guerra mundial. “A religião islâmica tem de aceitar o que os outros aceitaram no passado. O radicalismo e a provocação não têm lugar aqui”, defendeu Fillon, citado pelo “The Guardian”, no último dia de campanha.
Do outro lado da barricada estava, expectante, o moderado Juppé, perfeitamente consciente de que precisaria de um milagre para derrotar Fillon. Por outras palavras, sabendo que só com a participação do eleitorado da esquerda e do centro na eleição aberta poderia gritar vitória, já que os afastados Sarkozy e Bruno Le Maire tinham apelado ao voto dos seus apoiantes em Fillon. Juppé, igualmente antigo primeiro-ministro – do governo de Chirac – ficou-se em volta dos 30% e terá sido prejudicado pela incapacidade de desassociação do tão badalado sistema instalado, visto numa França cada vez extremada e receosa pela sua segurança, como ineficiente e estagnado.
O discurso inclusivo, temperado e prudente de Juppé era decerto mais apetecível para a Le Pen, num eventual confronto final em maio – previsto por grande parte da opinião pública francesa – mas as posições defendidas por Fillon agradam a muito do eleitorado insatisfeito da direita e darão, seguramente, mais trabalho à candidata da Frente Nacional. A impopularidade recorde da esquerda de François Hollande, ainda sem candidato anunciado, e as incertezas sobre a capacidade de mobilização da candidatura independente de Emmanuel Macron, tornam ainda mais verdadeiras as palavras de Fillon, em campanha: “A França está mais à direita do que nunca”. Se o acerto das sondagens tiver realmente chegado para ficar, então Le Pen e Fillon que arregacem já as mangas para um duelo na primavera.