No fundo, diz que António Costa é demasiado obediente em relação a Bruxelas – e que, por via disso, a distância entre o PCP e o Governo está sempre a aumentar.
Ao mesmo tempo, Jerónimo lança umas farpas ao Bloco de Esquerda, criticando o facto de se pôr demasiado em bicos de pés.
É preciso ver que entre o PCP e o BE vai um abismo.
Claro que há coisas em que são coincidentes: defendem ambos a renegociação da dívida do Estado e o incumprimento do défice.
Entendem que o pagamento dos juros da dívida consome os parcos recursos nacionais, comprometendo, designadamente, o investimento público.
E que o cumprimento do défice também estrangula o crescimento económico.
Mas fora isto, o PCP e o BE têm perspetivas completamente diferentes.
A questão é esta: enquanto o PCP dispõe de força própria – tem câmaras municipais, tem comissões de trabalhadores, tem influência nos sindicatos, domina a CGTP e a Fenprof –, o Bloco de Esquerda não tem nada.
Não tem implantação no poder local nem no mundo do trabalho.
Assim, o BE precisa muito mais de estar no Governo (ou de poder influenciar o Governo) do que o PCP.
Direi mesmo que, mais cedo ou mais tarde, o PCP terá de sair da ‘geringonça’, porque o apoio prolongado a um Governo rendido à Europa provocará a prazo erosão na sua base de apoio.
O PCP precisa de protestar, a CGTP e a Fenprof precisam de protestar, não podem estar eternamente amarrados a um acordo que lhes tolhe os movimentos.
Os comunistas só têm um problema: se deixarem de apoiar o Governo, serão acusados de promover o regresso da direita à área do poder.
E esse ónus não querem ter.
Por isso, a sua posição é muito difícil, como se vê no rosto de Jerónimo.
Enquanto Catarina Martins aparece sempre radiante de felicidade, Jerónimo de Sousa surge invariavelmente angustiado.
Essas expressões dizem tudo e não enganam.
Muito em breve, o Partido Comunista terá de fazer qualquer coisa que mostre a António Costa que não está ‘por tudo’.
O PCP não pode deixar que o PS e o BE se pavoneiem com os ‘sucessos’ da governação, deixando-o na posição de parente pobre.
Por este caminho, o PCP perde muito mais do que ganha em apoiar o Governo.
Ou consegue que o equilíbrio de forças na ‘geringonça’ mude – ou sai, deixando o Governo numa situação mais frágil.
Não quer dizer que caia logo – mas fica sem maioria no Parlamento, tendo de negociar caso a caso.
E o PCP aumentará a sua força.