Não é assim tão bom

Fiquei contente, como muita gente ficou, quando a República Portuguesa reembolsou antecipadamente o FMI em 2.000 milhões de euros, com uma poupança anual em juros da ordem dos 80 milhões de euros, devido à taxa de juro ser, salvo erro, de 4,2%.

Hoje, 28 de novembro de 2016, a comunicação social noticia que o Estado teve mais um grande sucesso: conseguiu vender 1.500 milhões de ORTV, que são obrigações (títulos de dívida) destinados a particulares, com uma taxa de juro que é atualmente de 2%. Assim sendo, esta emissão de dívida custará ao Estado 30 milhões de euros em juros. Se os descontarmos aos 80 milhões de juros poupados com o reembolso antecipado ao FMI, a poupança já é só de 50 milhões de euros por ano em juros. E, se dos 2.000 milhões de euros de dívida pública amortizada antecipadamente, descontarmos estes 1.500 milhões de euros agora emitidos, a nossa dívida pública diminuiu apenas 500 milhões de euros.

Mais: se quisermos ser rigorosos, temos de ver que os 2.000 milhões de euros que foram reembolsados ao FMI não caíram do céu, vieram das reservas do Estado. A poupança anual em juros mantém-se, mas, se tivermos em conta a diminuição da almofada financeira do Estado para pagar ao FMI, o saldo final é um aumento da nossa dívida pública líquida nos 1.500 milhões de euros das ORTV.

Reembolsámos 2.000 milhões de euros ao FMI? Sucesso, a nossa dívida diminuiu! Simultaneamente, endividámo-nos em 1.500 milhões de euros para que quem tenha um mínimo de 1.000 euros possa receber taxas de juro atrativas? Novo sucesso!

Tudo depende da forma como se apresentam os factos.