A eleição de Trump lançou dúvidas sobre o empenhamento dos Estados Unidos na indispensável descarbonização das fontes energéticas. Na campanha eleitoral Trump disse que o aquecimento global é uma mentira propagada pela China, para prejudicar a competitividade norte-americana. É possível que Trump retire os EUA do Acordo de Paris, o que será dramático.
Mas, um pouco por toda a parte, as opiniões públicas começam a perceber que a questão é infelizmente bem real. Trump ganhou na Flórida. Pois em Miami estão a ser realizadas obras importantes para proteger a cidade contra a previsível subida das águas do mar. Também na Flórida um referendo realizado no mesmo dia das eleições presidenciais foi ganho pelos partidários da energia solar.
As empresas petrolíferas gastaram mais de 20 milhões de dólares tentando convencer os votantes a apoiarem uma travagem no investimento em energia solar no Estado da Flórida. Em vão. O que faz lembrar as fortunas gastas há décadas pelas empresas tabaqueiras em campanhas afirmando que fumar não faz mal à saúde. Campanhas nas quais, lamentavelmente, participaram alguns cientistas pagos para o efeito.
Muito mais dinheiro do que o gasto em campanhas mentirosas sobre o tabaco será – já é – aplicado a defender o carvão, o petróleo e o gás. As empresas petrolíferas não têm falta de meios. E para azar dos defensores do clima foi há pouco descoberta no Texas uma jazida petrolífera que, com 20 mil milhões de barris de crude, poderá ser a maior dos EUA. Além de que o petróleo extraído de rochas de xisto – o fracking, que comporta consideráveis riscos ambientais – já diminuiu muito a dependência externa de petróleo nos EUA.
Apesar de insuficientes, tem havido progressos na viragem da energia com CO2 para energias limpas, sendo que o setor energético é responsável em dois terços pelo ‘efeito de estufa’. Na Europa e sobretudo em Portugal os combustíveis fósseis estão carregados de impostos. Mas no mundo há muitos países que os subsidiam.
Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2014 os subsídios estatais no mundo aos combustíveis fósseis atingiram perto de 500 mil milhões de euros. Calcula-se que nesse ano cerca de 13 por cento das emissões mundiais de CO2 foram subsidiadas. Já em 2015 os combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – receberam dos Estados do planeta cerca de 300 mil milhões de euros de subsídios. As ajudas estatais às energias renováveis ficaram-se por metade desse valor – e foram frequentemente criticadas.
Houve, assim, alguma redução deste absurdo em 2015. Aliás, as emissões de CO2 do setor energético estagnaram no ano passado, apesar de a economia mundial ter crescido. A melhoria da eficiência energética e o avanço das renováveis, em detrimento do uso do carvão, explicam esse resultado. Resultado que, sublinhe-se, não chega para alcançar os objetivos do Acordo de Paris. É chocante que Portugal tenha agora apostado na descoberta, improvável, de poços rentáveis de petróleo e gás.