Hoje, 2 de dezembro de 2016, primeira sexta-feira do mês, foi revelado que a taxa de desemprego nos EUA caiu de 4,9% em outubro para 4,6% em novembro. A taxa de desemprego nunca baixa até aos 0%, porque mesmo que a economia esteja a crescer rapidamente há sempre empresas a fechar e pessoas a entrar no mercado de trabalho. O que acontece, a partir de certa altura, é que a escassez de mão-de-obra faz subir os salários, subindo também a inflação. Essa é a altura em que o banco central deve intervir subindo as taxas de juro, encarecendo o consumo e o investimento de famílias e de empresas, e arrefecendo dessa forma a economia, para combater a inflação. É nesse ponto que os EUA estão agora, pelo que uma subida das taxas de juro norte-americanas este mês parece ser quase inevitável.
A relativa escassez de mão-de-obra pode também por água na fervura na ideia do Sr. Trump de deportar alguns milhões de imigrantes. Com a economia já perto da falta de mão-de-obra, deportar imigrantes pode não ser uma ideia brilhante, do ponto de vista dos empresários.
E aqui, na nossa zona-euro, qual é a taxa de desemprego? 9,8% em outubro, segundo o Eurostat. E o ponto mais baixo em que esteve desde a criação do euro (1 de janeiro de 1999) foi de 7,2% em março de 2008.
O que nos remete para a velha questão dos mandatos diferentes dos dois bancos centrais: enquanto que nos EUA o banco central (a Fed) tem como mandato combater quer o desemprego quer a inflação, deste lado do Atlântico o Banco Central Europeu tem apenas como mandato defender o valor do euro, isto é, combater a inflação. Isso é o que faz com que o presidente do banco central alemão (Bundesbank) venha pedir subidas da taxa de juro mesmo com a taxa de desemprego em Portugal esteja em 10,9%. Que se lixem os desempregados do sul da Europa, o que é preciso é que os bancos remunerem melhor os depósitos a prazo, é o ponto de vista dos economistas ortodoxos alemães.
Algo está muito mal na União Europeia, que agora pode ter começado a desagregar-se, com a saída do Reino Unido (que nem fazia parte da zona-euro). A extrema-direita ganha terreno em países onde haverá eleições em 2017 (França, Alemanha, Holanda), e eles não são entusiastas do euro, justamente porque sabem que a rigidez desta moeda dificulta a necessidade de muitos cidadãos europeus em arranjarem um emprego. Será tempo de a Europa pensar que precisa de mudanças profundas, sobretudo de ser mais solidária, sob o perigo de desagregar-se.