O francês fala inglês, não chega atrasado e não gosta de vinho tinto. Não é, por isso, um francês convencional. Olivier Ubéda foi maestro e pianista e entrou para a política para marcar o ritmo. “Sou um apparatchik há 20 anos”, sorri, “não há democracia sem essas estruturas.” Foi chefe de gabinete de um ministro da Defesa aos 25 anos, o que levou a acreditar: “Não amas o teu país sem amares o teu exército!” Esteve com Nicolas Sarkozy cinco anos. Foi o responsável pela comunicação do ex-presidente gaulês e fará a campanha de François Fillon, o homem que ganhou as primárias do centro-direita em França. “Gandhi mudou o mundo e era mais baixo que Sarkozy – o que não é lá muito alto”, brincou.
Os mais de 80 jovens reunidos em Lisboa para um fim de semana de encontro europeu sobre “Face ao Futuro” são uma audiência atenta. A Juventude Popular, a “jota” do CDS-PP, juntou-se em parceria com a Fundação Adenauer para organizar o evento. Paulo Portas falou no mesmo sobre líderes como Mandela, Churchill e De Gaulle.
Ao i, Ubéda afirma que “Fillon vai ganhar porque ninguém é tão liberal quanto ele, diz as coisas como ele ou teve quatro milhões de votos” nas primárias d’Os Republicanos. A França, segundo o consultor, “está farta da direita socialista de Chirac” e Juppé seria produto dessa fábrica. Confrontado com a possibilidade de Emmanuel Macron, outro liberal mas de esquerda, furtar algum eleitorado, o orador foi assertivo: “Ele parece bem e soa bem, mas não tem máquina.” Macron, ex-ministro de Hollande, já anunciou que concorrerá como independente e o Partido Socialista “deve apoiar Valls”, o atual primeiro-ministro, concluiu Ubéda.
Luís Pedro Mota Soares, outro dos convidados do mesmo dia, realizou uma intervenção igualmente política, mas interna e atual. “Portugal ficar bem com esta solução de governo – com comunistas e trotskistas –, terá tanto sucesso quanto o facto de não estar a chover neste momento em Lisboa”, ironizou o deputado do CDS enquanto o vento fustigava as janelas da sala com gotas de água.
Mota Soares apontou baterias aos partidos da esquerda, considerando que “um partido que abre um congresso com uma homenagem a Fidel Castro faz qualquer um perguntar se está num país democrático e ocidental” sobre a reunião magna do PCP, também este fim de semana. “Não houve nenhuma televisão nacional a passar o contraste entre quem se levantou pela morte de um ditador e quem não se levantou em frente do chefe de Estado espanhol”, rematou contra o Bloco de Esquerda, que ficou sentado perante o discurso do rei Filipe vi, recentemente, no parlamento.
O i falou com Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, que aponta à importância de saber “o que antes fomos para melhor aplicar a matriz na resolução dos problemas das pessoas”. Depois de Mota Soares lançar o líder da “jota” como “não só um valor de futuro mas também do presente”, Rodrigues dos Santos diz-se “disponível para aquilo que o partido entender que pode ser útil”. Atualmente autarca em Carnide, o jovem advogado “ponderaria novo desafio autárquico” se a estratégia da direção assim o entendesse.
Rodrigues juntou-se a Mota Soares na condenação do voto de pesar pela morte de Fidel Castro, considerando “lamentável que o PSD se tenha abstido por um sanguinário” e um “desrespeito pelo Portugal ocidental e democrático e pelos direitos humanos”. Para o futuro, “a JP quer debruçar-se sobre o combate contra a precariedade laboral”, concluiu.