O escândalo fiscal à volta dos jogadores de futebol em Espanha ganhou nos últimos dias uma repercussão desmesurada, muito devido ao facto de envolver o nome de Cristiano Ronaldo. Chegou a cogitar-se sobre se as notícias seriam apenas parte de um plano maquiavélico para desestabilizar o CR7 e o Real Madrid para o clássico do passado sábado com o Barcelona – a notícia foi publicada pelo jornal espanhol “El Mundo” na véspera do jogo.
Outras versões apontavam a um ataque direto a Jorge Mendes: de acordo com a mesma publicação, todos os jogadores representados pelo agente português que aparecem no Football Leaks, à exceção do colombiano James Rodríguez, estão a ser (ou já foram) investigados em Espanha. Estamos a falar de nomes como Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão, Pepe e Radamel Falcao – além de José Mourinho.
Um olhar mais atento, porém, permite perceber que os movimentos do fisco espanhol não são de agora e vão muito além do “universo Mendes” ou mesmo do Real Madrid. Nos últimos anos, vários têm sido, por exemplo, os craques… do Barcelona debaixo do rasto da justiça espanhola e, de acordo com o jornal “El Confidencial”, o fisco já se lançou entretanto em investigações aos maiores clubes do país (Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid, Sevilha e Valência), na tentativa de recuperar 52 milhões de euros que estarão em dívida. Mas, curiosamente – ou talvez não -, nenhum jogador espanhol tem sido alvo de acusações ou investigações neste sentido.
Do Brasil com polémica O caso de Neymar foi o primeiro com mediatismo: os números oficiais da transferência do avançado brasileiro para o Barça, em maio de 2013, causaram sempre enorme ceticismo junto das autoridades competentes, com o clube blaugrana a acabar por ser acusado de revelar valores errados de forma premeditada, como meio de fugir ao pagamento de impostos. O fisco chegou a pedir o pagamento de uma multa de 63 milhões de euros, bem como penas de prisão para Sandro Rosell, presidente do Barcelona na altura da transferência, e Josep Maria Bartomeu, o atual líder do clube. O Barça acabou por aceitar pagar um valor entre os quatro e os seis milhões de euros e o caso ficou encerrado.
Javier Mascherano, médio/defesa argentino, Adriano, defesa brasileiro, Alexis Sánchez, extremo chileno e, mais recentemente, Samuel Eto’o, avançado camaronês, também se viram sob investigação. O primeiro, único ainda a jogar no Barcelona, acabou por aceitar uma pena de um ano de prisão (suspensa) e o pagamento de 1,5 milhões de euros ao fisco para ficar com a situação regularizada.
Messi condenado Mais brado deu o caso de Messi. Em Espanha desde os 14 anos, o craque argentino foi acusado, em 2013, de três crimes de fraude fiscal no valor de 4,1 milhões de euros entre 2007 e 2009. Já em junho deste ano, e num processo que acabou por ser resolvido de forma célere, a justiça espanhola ilibou o jogador, mas condenou–o – bem como ao seu pai e representante, Jorge Horacio Messi -, ainda assim, a 21 meses de prisão – que não serão efetivos, uma vez que em Espanha as penas inferiores a dois anos normalmente são suspensas quando se trata da primeira condenação.
O fisco acabou por aceitar a sentença… mas só depois de Messi e seu progenitor terem reposto o valor em causa. Pelo meio, concluiu que o jogador não teve conhecimento da fraude e que a sua intervenção terá sido “puramente formal”, uma vez que se limitou a seguir as indicações do pai.
Refira-se, porém, que o Barcelona resolveu na altura lançar uma campanha nas redes sociais em defesa de Messi, denominada #TodosSomosMessi, que acabou por ser mal acolhida… pelos próprios adeptos blaugrana. O Ministério das Finanças também criticou a iniciativa, que considerou “irresponsável”. “Defender desta forma alguém que foi condenado por fraude fiscal é uma irresponsabilidade e representa a antítese de que o Estado somos todos. É necessário consciencializar os espanhóis sobre a importância de pagar impostos”, concluiu o porta-voz do governo.