A oposição armada síria está prestes a abrir mão do seu último grande bastião urbano e corre o risco de em breve se transformar numa insurreição rural, sem lugar à mesa de negociações ou perspetivas de ser ouvida num cenário de resolução política. As forças leais ao regime de Bashar al-Assad avançaram esta semana sobre as linhas rebeldes nos bairros leste de Alepo com a mesma eficácia com que no fim de novembro começaram a desmantelar as linhas da oposição que se aguentavam mais ou menos intactas há quatro anos: a zona histórica da cidade está agora sob controlo governamental e os cerca de oito mil rebeldes ainda em Alepo estão concentrados numa pequena bolsa de resistência armada no extremo sul da cidade.
Em cerca de duas semanas, os rebeldes sírios perderam três quartos do território que tinham em Alepo. O draconiano cerco dos últimos dois meses levou a melhor. Os violentos bombardeamentos também, assim como os recém-chegados reforços das milícias xiitas que operam no terreno sob ordens de oficiais iranianos e sírios. Não se sabe ao certo quantos civis morreram nas últimas semanas de violentos combates, mas várias estimativas asseguram que o número anda na casa das centenas. Perto de 30 mil pessoas fugiram dos domínios rebeldes para as zonas controladas pelo regime, mas as Nações Unidas afirmam que há ainda cerca de 100 mil civis na última bolsa de resistência armada e anunciaram ontem que centenas de homens que atravessaram as linhas nos últimos dias desapareceram ao chegar a territórios governamentais. «Dado o terrível registo de detenções arbitrárias, tortura e desaparecimentos forçados às mãos do Governo sírio, é claro que estamos profundamente preocupados com o destino destes indivíduos», declarava ontem Rupert Colville, porta-voz do gabinete de proteção de refugiados da ONU.
Líderes de governos ocidentais e vários grupos de oposição armada pediram esta semana uma pausa de cinco dias nos confrontos para conseguirem retirar civis dos seus territórios. Passados vários dias de negociações entre Estados Unidos e Rússia, ambos em busca de um acordo que permitisse um cessar-fogo temporário e a retirada de residentes dos bairros rebeldes, Moscovo anunciou na quinta-feira que travaria ontem os combates para resgatar cerca de oito mil civis. Mas a população dizia ontem que os bombardeamentos prosseguiam em várias zonas de Alepo, que, a passar para as mãos do regime, praticamente garante que Assad continuará no poder e que a guerra, do seu lado, estará ganha. No exterior tudo se alinha nesse sentido. A Reuters noticiava esta semana que os oficiais sírios querem conquistar toda a Alepo rebelde até Donald Trump tomar posse no fim de janeiro, procurando um corte na política americana para a Síria.