Há cinco meses escrevi um artigo com este título. O tema da destruição da PT tinha praticamente caído no esquecimento – e eu tive a sorte de me lembrar de o desenterrar.
Sorte porquê?
Porque pouco depois a Operação Marquês começaria a ocupar-se seriamente do caso – e pude constatar que as minhas intuições estavam certas.
Também no Brasil os investigadores da Operação Lava Jato percebiam que os dois casos se cruzavam.
E todos os caminhos iam dar a dois protagonistas: José Sócrates e Lula da Silva.
O primeiro episódio desta história foi a OPA da Sonae sobre a PT, em 2007.
A Sonae poderia ter tomado tranquilamente conta da PT – e esta seria possivelmente hoje uma empresa florescente.
Mas os acionistas mais próximos de Sócrates ou apoiados por ele – Ricardo Salgado (BES), Santos Ferreira (CGD) e Nuno Vasconcelos (Ongoing), – e o então presidente da empresa, Henrique Granadeiro, chumbaram a operação.
A PT estava guardada para outras cavalarias.
Em 2010, a Portugal Telecom propôs-se vender a empresa brasileira Vivo, de que detinha 50%, à espanhola Telefónica, mas Sócrates chumbou a operação usando a golden share do Estado.
Esse veto constituía apenas, porém, uma cortina de fumo para abrir as portas a um negócio milionário.
Sócrates fez saber que autorizaria a venda da Vivo desde que a PT permanecesse no mercado brasileiro.
A investigação suspeita que esta solução tenha sido acertada entre Sócrates e Lula.
E, deste modo, Sócrates matava dois coelhos de uma cajadada: a venda da Vivo (por 7,5 mil milhões) e a consequente distribuição do lucro pelos acionistas da PT, permitiria ajudar o amigo Ricardo Salgado; e a compra da Oi (por 3,7 mil milhões) permitiria ajudar o amigo Lula da Silva.
Todos ficavam satisfeitos: Salgado porque recebia uma fortuna, numa altura em que já estava em dificuldades, Lula porque resolvia o problema de uma empresa estatal em dificuldades, e Sócrates porque fora o padrinho do negócio.
Só a PT ficaria a perder, e de que maneira: desfazia-se de uma operadora excelente, a Vivo, e adquiria um traste que não valia quase nada, a Oi. E o lucro da operação (3,8 mil milhões), sendo distribuído pelos acionistas, não acrescentava nada à empresa.
Não sei se Sócrates recebeu alguma comissão pelo negócio, e isso caberá à Justiça apurar.
Os favores a Salgado devem ter rendido alguma coisa a alguém; e a venda inflacionada da Oi rendeu certamente muitas dezenas ou centenas de milhões a muita gente.
Mas, recebendo ou não comissões, uma coisa é certa: José Sócrates desempenhou um papel central num negócio que levou a PT à ruína.
Acabaria vendida à Oi a custo zero, pois as dívidas eram iguais ao valor da transação.
Espero que esta triste história seja investigada até ao fim e se apurem os responsáveis.
Ela custou ao país muitos milhares de milhões de euros.
E não foi por inépcia – foi deliberadamente para encher os bolsos a uns tantos.