Mário Soares.‘Situação crítica’ de ex-Presidente preocupa médicos

O ex-Presidente voltou a ser internado quase quatro anos depois de um episódio clínico de encefalite que o manteve por 10 dias no hospital da Luz. Agora, uma indisposição na madrugada de terça- -feira levou-o aos cuidados intensivos da Cruz Vermelha. Apesar da “situação crítica”, Mário Soares mantém-se estável

O antigo Presidente da República Mário Soares continuava ao princípio da noite internado na unidade de cuidados intensivos do Hospital da Cruz Vermelha, em “situação crítica” e com “prognóstico reservado”, mas estável.

O i sabe que os primeiros exames realizados a Mário Soares no Hospital da Cruz Vermelha, logo na madrugada de terça-feira, não detetaram qualquer situação anómala.

O antigo chefe do Estado, que completou 92 anos na passada semana, chegou à unidade hospitalar cerca das três horas da madrugada, depois de se ter sentido indisposto. A decisão do internamento foi tomada por precaução.

Fonte próxima do líder histórico dos socialistas adiantou que Mário Soares realizou exames médicos com a equipa do hospital que o segue em permanência.

De acordo com o último boletim clínico daquela unidade hospitalar (lido cerca das 18h00 de terça-feira), o estado de saúde de Mário Soares apresentava “prognóstico reservado”.

O porta-voz do hospital, José Barata, indicou que o antigo primeiro-ministro e presidente mantinha “o nível dos sinais vitais e o mesmo grau de consciência, sendo o prognóstico reservado”.

“O dr. Mário Soares foi admitido, esta madrugada, na unidade de cuidados intensivos do Hospital da Cruz Vermelha [em Lisboa], em situação crítica”, referiu ainda.

José Barata confirmou que Soares “está inconsciente, internado na unidade de cuidados intensivos”, e que nas últimas horas (de terça-feira) “tem estado debaixo de intensa vigilância médica, não se verificando alteração ou agravamento da sua situação clínica”.

“Mais uma vez, a família do dr. Mário Soares agradece a preocupação de todos neste momento delicado”, disse ainda.

“Já estava fragilizado” Em declarações feitas aos jornalistas ao princípio da tarde de ontem, no hospital, o médico cirurgião Eduardo Barroso, sobrinho de Mário Soares, reconheceu que o antigo presidente vive uma situação de fragilidade.

Barroso foi dos primeiros a admitir que o tio não estava consciente. “São 92 anos de um homem que já estava fragilizado, que ficou muito mais fragilizado depois da encefalite e ainda mais depois de ter perdido a sua mulher.” E acrescentou: “Vamos ver como é que uma pessoa de 92 anos vai reagir a esta situação em que qualquer soprozinho de uma complicação pode ser mais grave.”

Nas declarações aos jornalistas, o sobrinho de Mário Soares e Maria Barroso esclareceu ainda que os exames realizados – tomografia axial computorizada, TAC – deram todos “resultado negativo”, o que lhe proporcionou um “grande alívio”.

Barroso reconheceu que a “família está muito preocupada desde há muitos anos, desde o pós-encefalite”, e que ter perdido a mulher, “uma companheira de uma vida”, tudo isso “tem levado Mário Soares a estar diferente”.

“Assunto Tabu” A situação referida por Barroso remonta a janeiro de 2013, quando Mário Soares registou um episódio clínico que o deixou seriamente debilitado.

Inicialmente chegou a admitir-se que poderia ter sofrido um pequeno acidente vascular cerebral (AVC), mas posteriormente, graças à intervenção dos cientistas Maria de Sousa (em Lisboa) e António Damásio (nos Estados Unidos), concluiu-se que afinal se tratava de uma inflamação aguda no encéfalo (encefalite), causada por um vírus da gripe.

Mário Soares foi internado no Hospital da Luz no dia 12 daquele mês com um “quadro de indisposição” e teve alta nove dias depois, a 21.

Este episódio esteve, aliás, na origem de um desentendimento com o tio ex-Presidente assumido pelo sobrinho médico: “O meu tio… lá está”, disse há pouco mais de um ano Eduardo Barroso em entrevista ao i. “Enfim, não o tenho acompanhado muito agora, sobretudo em termos médicos, zangámo-nos, e desde o internamento no Hospital da Luz – aquela crise em que, infelizmente, eu não estava em Lisboa – que não falamos sobre assuntos médicos. É um assunto tabu para os dois, porque queremos manter uma relação cordial. O que se passou foi muito grave e será um dia explicado”, disse o cirurgião relativamente a este episódio.