O Teatro da Cornucópia, de Luís Miguel Cintra, terá este sábado o seu último espetáculo, noticiaram esta sexta-feira a Antena 1 e o Observador. “A Cornucópia vai fechar porque não há dinheiro para sermos a Cornucópia”, disse o ator e encenador numa longa entrevista àquele jornal.
Será às 16h a última apresentação da companhia que Luís Miguel Cintra fundou em 1973 com Jorge Silva Melo. Um recital de Guillaume Apollinaire, com a edição de “Teatro da Cornucópia, Espetáculos de 2002 a 2016”, segundo volume dos livros que contam a história da companhia.
Na mesma entrevista, publicada esta sexta-feira assim que foi noticiado o fim da companhia, Cintra explica que a companhia perdeu metade dos seus apoios. “Querem que com essa metade consigamos fazer a mesma coisa. Ora já antes era muito pouco para fazer o tipo de trabalho que a Cornucópia faz. E, no fundo, fomos arrastando uma situação de precariedade”, diz. “Tivemos co-produções com teatros nacionais, com o São Luiz, assim vamos poupando para conseguir fazer as coisas seguintes. Só que chegou a um extremo, não conseguimos mais. Podíamos partir, daqui para a frente, para uma situação absurda de termos uma casa a funcionar, termos pessoal competente para fazer as coisas e não termos dinheiro.”
A Cornucópia recebeu este ano da Direção-Geral das Artes um apoio de 309.600 euros, subsídio que é atribuído pelo período de quatro anos e que corresponde a metade do valor com que a companhia era apoiada há dez anos. Ao i, o Ministério da Cultura sublinhou que "não existiu qualquer corte da parte do Ministério da Cultura" com o atual governo e que os cortes nos apoios às artes e às estruturas artísticas, que afetaram também o Teatro da Cornucópia, remontam aos anos de 2011 e 2012.
A tutela diz ainda ter vindo a acompanhar de perto a situação da companhia e que teve nesse processo reuniões com a direção, acrescentando que está disponível para colaborar com a Cornucópia "para que este processo se concretize da melhor forma, por profundo reconhecimento e respeito pelo Património Histórico – tangível e intangível – que a companhia deixa para o teatro português". O arrendamento do edifício, no valor de 6 mil euros mensais e que era também assegurado pelo Ministério da Cultura, está por isso garantido por mais um ano, "de modo a que o processo de encerramento, e todos os trabalhos decorrentes, sejam realizados nas devidas condições".
Na mesma entrevista ao Observador, Cintra traça um paralelismo com Apollinaire para dizer que “tudo tem que morrer”. Que “é preferível não morrer porque o coração pára, mas morrer porque se fechou um ciclo. Assim construímos o fim”.
Já o último número da newsletter ca Cornucópia deixava antever que o fim da companhia próximo: “Pensamos que ao longo destes anos fizemos muito e menos mal, mas também julgamos já ter idade para ousar dizer que não sabemos nem queremos adaptar-nos a modelos de gestão a que dificilmente nos habituaríamos. Isso faríamos mal.”