Escola pública está a ganhar terreno e recupera em relação às escolas privadas. Sem surpresa, os colégios privados voltam a dominar os primeiros lugares do ranking das escolas, mas este ano verifica-se uma inversão na tendência: há mais escolas públicas entre os 100 estabelecimentos de ensino mais bem classificados – mesmo com uma ligeira subida da média dos exames nacionais do 9.º e 12.º anos. O cenário contraria a tendência que se tinha vindo a acentuar nos últimos anos, com as escolas privadas a dominar cada vez mais os primeiros lugares das tabelas com as melhores médias dos exames.
Agora, os alunos das escolas públicas melhoraram os seus resultados tanto no ensino básico como no secundário, o que permitiu reduzir o fosso que tradicionalmente separa os dois sistemas de ensino.
Entre as 100 escolas com as médias dos exames do secundário mais elevadas estão agora 46 públicas, quando no ano passado eram apenas 37.
No 9.º ano, em 2016, há 25 públicas entre as 100 melhores, mais do dobro do que em 2015 – quando eram apenas 12 as escolas públicas neste top.
Este é um dos resultados que salta à vista dos rankings elaborados pelo B.I. com base nos resultados dos exames nacionais às 22 disciplinas do 12.º ano, realizados pelos alunos internos (os que frequentam as aulas o ano inteiro). No caso do 9.º ano foram tidos em conta os resultados dos alunos internos nos exames nacionais de Matemática e Português.
Para o secretário de Estado da Educação, João Costa, esta inversão na tendência é consequência do trabalho das escolas públicas, que ao longo dos últimos anos têm conseguido progredir. E para medir este desempenho das escolas, o Ministério da Educação passou a utilizar este ano um novo indicador: o percurso direto de sucesso. Ou seja, uma ferramenta que mede o número de alunos que chegam ao fim de ciclo (9.º ou 12.º anos) sem terem chumbado em anos anteriores e com notas positivas em todos os exames. Com este indicador “desfaz-se a ideia de que o setor privado tem excelentes resultados e que o setor público está cá em baixo”, explica João Costa, acrescentando que hoje, entre as escolas com melhores resultados, “começamos a ter uma mancha muito mais rica e diversificada” entre a escola pública e a privada. Há escolas que “ano após ano aparecem no 300.º lugar dos rankings e subitamente estão no topo da tabela”. Porquê? “Porque fazem um trabalho de progressão muito maior do que outras escolas e não selecionam alunos”, remata o governante.
É o caso da Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, que, de acordo com o ranking do B.I., este ano é a escola pública com a média mais alta nos exames do 3.º ciclo. Este ano, os alunos do 9.º ano que frequentam a D. Manuel I conseguiram uma média de 72,63 valores (numa escala de 0 a 100), colocando a escola na 27.ª posição do ranking. No ano passado esta escola não passou do 79.º lugar, o que significa que subiu 52 lugares na tabela.
Também no ranking do secundário a escola pública com a melhor classificação (34.º lugar) – a Escola Básica e Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa – subiu dez posições face a 2015. E se recuarmos dois anos, a evolução desta escola é ainda maior: em 2014, a Filipa de Lencastre ocupava a 72.ª posição. Este ano, os alunos conseguiram uma média de 12,7 valores nas 553 provas realizadas no 12.º ano.
Estes são alguns dos resultados que os diretores dizem ser sinal de que a escola pública “respira de boa saúde”. Para o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, a evolução das escolas públicas nos rankings “não é resultado de nenhum governo” é sim, “fruto do trabalho dos professores que são quem faz com que as coisas aconteçam e dão o máximo para conseguirem bons resultados junto dos seus alunos”. Além disso, lembra Filinto Lima, há alguns anos que as escolas “adotam estratégias, como o apoio a alunos ou a coadjuvação [dois professores em sala de aula em algumas disciplinas], para aumentar o sucesso e reduzir o abandono escolar”.
Também Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), diz que esta “é uma evolução natural” e que a escola pública “tem vindo a fazer um percurso sólido e seguro”, lembrando que a escola é o “reflexo da comunidade em que está inserida e não escolhe nem exclui os alunos”.
No entanto, o presidente do Conselho de Escolas – órgão consultivo do Ministério da Educação – não está otimista quanto aos resultados da escola pública no futuro. “Acho que a política e o discurso deste ministério e do parlamento, que acabou com os exames, tendem a desvalorizar os resultados escolares. Temo que o quadro político venha a quebrar a evolução dos resultados”, diz José Eduardo Lemos.
Apesar da inversão da tendência, são as escolas privadas que voltam a dominar os primeiros lugares dos rankings. Este ano, pela quinta vez, é o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, a liderar a tabela das médias mais altas nos exames nacionais do secundário, com 15,19 valores em 492 exames. Na segunda posição surge o St. Peter’s School, em Palmela, com uma média de 14,84 valores em 193 exames. A primeira escola pública surge na 34.ª posição, sendo que, no ano passado, a pública com a média mais elevada ocupava o 28.º lugar.
Entre o total de 515 escolas secundárias, que preenchem os critérios do ranking do B.I., há 437 que são públicas, sendo as restantes 79 escolas privadas. Das públicas, 133 (30,55) têm uma média negativa (menos de dez valores) nos exames nacionais. Entre as privadas, apenas sete (8,8%) têm média negativa nos exames de secundário.